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Socorro... Erraram meu sexo!

                                  PREFÁCIO


     Este livro foi resultado de um trabalho de pesquisa ao encontro da
profundidade do “EU” oculto. Muitos porquês, como aconteceu? Pessoas que no
primeiro encontro juravam já terem se conhecido antes.
     Tantas coincidências, vidas que se cruzavam, com perspectivas da busca de
explicações e soluções. Se tudo acontece por uma razão, nas dores mais profundas
que machucam o coração, ou nas alegrias que transbordam o coração, a verdade
tinha que chegar à tona.
     E tudo foi relatado com a precisão exata de todo o ocorrido. Nada foi mudado
na sincronia dos fatos, apenas os verdadeiros nomes foram ocultados para que não
se comprometa o dia a dia dessas pessoas, que fizeram parte fundamental dessa
história. Que se vem a confirmar que talvez as respostas dos porquês, estejam em
outra vida atrás, aquela vida que está guardada no nosso cérebro. Que somente nós
podemos ter a vontade e o desejo de desvendar. Precisando de muita coragem, pois
as lágrimas e a dor com certeza se farão presentes.
     Ficando assim à todos os leitores: “Nada é mistério, nada é magia, somos
todos seres universais livres para entrar e sair, para desvendarmos o Mistério
Universal, bastando-nos ter a coragem, a vontade de querer aprender. E
confirmar que não estamos sós, nessa grande experiência da vida, somos
personagens de uma grande peça teatral, onde começamos representar no
nascimento e terminamos quando se fecham as cortinas ao chegar a morte física,
mas continuamos a viver a nossa vida real, em outro plano. E muitas outras peças
teatrais já representamos e com certeza iremos representar até chegarmos a
plenitude espiritual, onde na perfeição seremos professores e viveremos apenas à
ensinar!”
     Que tudo com certeza irá passar, só nos ficando as experiências e de cada
representação, acumulados o amor que nos fica guardado, aos irmãos que
representaram conosco, papéis de pais, filhos, amigos, amantes e até inimigos que
com o passar do tempo verificamos que quem foi classificado por nós, nossos
algozes, eram apenas aqueles a quem devíamos.
     E cumprindo nossos resgates, com certeza passaram a ser nossos irmãos
queridos, pois todos nós fazemos parte de uma imensa família Universal. Regida
por uma só força que nos guia, o grande Mentor Universal, o nosso Pai, a nossa
Luz “Deus”.


                                        Ugnê




                                                                                   1
Socorro... Erraram meu sexo!

                             AGRADECIMENTOS

     Ao núcleo Espírita Segue a Jesus.
    Aos meus amigos do Núcleo que me ajudaram quando eu caí no abismo da
incompreensão.
     Aos meus filhos, que sem eles a minha vida não teria sentido, obrigado Julio e
Ricardo pela grande experiência da maternidade.
     Não podendo deixar em destaque as minhas amigas, que deram-me o
verdadeiro sentido da palavra “amiga”, Terezinha, Suely, Maria, Cida e Sandra
Catarina. E em especial a todos os amigos espirituais que deram-me a sustentação
para realização dessa minha busca, para a minha verdadeira identidade, para o meu
“Eu” oculto. E para o verdadeiro, o pai amoroso, compreensivo, que concedeu para
mim essa experiência de mesmo nesse plano carnal, em pleno esquecimento,
comprovar que à muitas outras vidas de carne, além dessa que estou vivenciando.
Obrigado Pai, Querido “Deus”.



                              Rosangela Mezzacapa




                                                                                     2
Socorro... Erraram meu sexo!

                                  CAPÍTULO 1
                               A DESCOBERTA


     Na afirmação exata, que existe uma ou muitas vidas antes dessa, que eu estou
vivenciando, acontece e aconteceram, inúmeras ocasiões que fico muito
embaraçada com situações, diante da minha aparência física.
      Sou uma mulher de aproximadamente 40 anos, separada legalmente, mãe,
mulher? Mas como se não me sinto realmente o que, aparentemente, me vejo no
espelho? E se eu pudesse afirmar, se Deus ou a própria genética errou na formação
fetal, daria como confirmação que pelo menos, no meu caso, alguém errou o meu
sexo.
      Tudo começou muito tempo depois do meu nascimento, quando aquele ano
eu iria completar 36 anos. Antes, porém, fui uma criança normal, cheia de encantos
femininos. Na adolescência, o meu lado homossexual, passou desapercebido
devido a toda uma criação puritana. Mas lembro-me, que em minhas brincadeiras
de príncipes e princesas, eu sempre estava do lado masculino. Alguns doutores em
psiquiatria, talvez me dessem um diagnóstico de um homossexual oculto desde a
infância e com manifestação após a fase adulta. Sim, talvez, mas não a mim, que
sempre condeno padrões anormais aos quais eu vivia. Cheia de preconceitos, eu
nunca poderia admitir que eu era, o que eu mesma tanto condenava. Achava
ridículo o amor entre duas pessoas do mesmo sexo. Se por acaso eu os encontrasse,
fazia questão de me afastar o quanto pudesse, ignorando, recriminando,
observando distante aquela situação a qual eu denominava ridícula e pensava em
meu interior, como conseguiam viver assim? Uma aberração da natureza, eu
pensava.
     Tudo o que era anormal em um casal, eu condenava, desde a diferença de
idade, diferenças raciais ou qualquer outro tipo de diferença, para mim bastava ser
diferente para ser condenado.
     Meu gênio sempre foi extremamente forte, nunca foi dócil, mesmo quando
me submeti a um “casamento normal” perante a nossa sociedade. Algo me
incomodava na vida conjugal, estava completamente insatisfeita e não conseguia
visualizar o que provocava em mim tamanha infelicidade. Não poderia ser nenhum
tipo de problema financeiro pois, minha vida de classe média se fazia normal. Fui
vivendo assim, mesmo que infeliz. Fui vivendo até que não suportando mais tantas
brigas e discussões, me separei aos 7 anos de casada, com 28 anos e dois filhos,
decidi refazer minha vida.
     Procurei alguém que me completasse, mas infelizmente, nada me completava
o que me trazia a certeza de que a minha cara metade não haveria de estar em um
corpo do ser masculino.



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Socorro... Erraram meu sexo!

    No ano de 1993, depois de inúmeros problemas, sem muito compreender o
porque, me encaminhei para um Núcleo Espírita Kardecista no bairro em que seu
morava. Chegando lá, matriculei-me em um curso de educação mediúnica.
Perguntava para mim mesma o que me levava a fazer este curso, já que nunca fui
muito amante de seguir uma filosofia.
     No dia 15 de fevereiro de 1993 começariam as minhas aulas e
inexplicavelmente, havia um sentimento de ansiedade dentro de mim. Conheci
minhas professoras, elas eram em três e diziam para todos que o curso tinha
duração de quatro anos. Achei um absurdo um curso de quatro anos para aprender
como falar com pessoas mortas, no entanto, eu estava lá, todas as segundas feiras,
das 14 às 16 horas e de uma forma curiosa era sagrado a minha ida às aulas, muito
entusiasmada pelos segredos do além, eu estava contagiada. Mas um dia o destino
levou-me para uma mudança jamais esperada. Eu estava com sérios problemas de
saúde e em uma conversa com uma das professoras, ela falou-me que eu poderia
fazer um tratamento de Cromoterapia no próprio Núcleo e que eu fosse merecedora
do tratamento de cura, teria resultado. Assim, decidi fazer o tratamento, já que
sempre fui uma mulher de enfrentar qualquer situação sem temer, ir em frente seja
qual for o resultado.
     No dia marcado para o tratamento, sai de minha casa com grande aperto no
coração, sentia-me estranha, como se algo fosse acontecer. Chegando ao Núcleo
Espírita, notei algo estranho em uma das professoras que palestravam o curso nas
segundas feiras. Ela que realizava o tratamento de Cromoterapia.
     Quando chegou a minha vez, entrei em uma sala, com pouca luminosidade,
sentei-me em uma cadeira rodeada por cinco pessoas, que fechavam com as mãos
um círculo e a minha professora Maria falava de cores passando pelos meus órgãos
internos. Era engraçado pois, enquanto ela falava, eu tinha a sensação que por
dentro de mim tudo esquentava, até que chegou um exato momento que eu parecia
estar fora do meu corpo e logo voltei. Levei o maior susto, pois era a primeira vez
que pude experimentar tão grande sensação.
     Se antes eu não acreditava que o destino vem predestinado desde o
nascimento, desde aquele momento que saí daquela sala, minha vida mudou em
tudo, até mesmo em minha preferência sexual.
     Nesse mesmo dia à noite, tive um pesadelo terrível, eu andava por caminhos
escuros, pedia socorro, implorava para que alguém me acudisse, me tirasse de uma
espécie de abismo. Acordei assustada. Durante sete dias este pesadelo se repetia.
     No sétimo dia de repetição deste pesadelo, era dia de aula, fui para o Núcleo e
como de costume, eu era uma das primeiras a chegar. Observei a chegada de uma a
uma das professoras até que meus olhos avistaram Maria, uma das professoras,
senti uma sensação arrepiante no coração mas, logo me repreendi por tal
sentimento vindo de dentro de mim, como eu poderia sentir algo por uma mulher?
Estou ficando louca?

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Socorro... Erraram meu sexo!

    Como foi duro para eu terminar aquele dia de curso, pois o meu olhar
procurava se distanciar do olhar de Maria.
    Na volta para casa comentei o ocorrido com uma amiga do curso e ela
simplesmente achou normal.
     _ Normal? Você me diz que e normal eu sentir atração por uma mulher? Isto é
ridículo.
     _ Se você, Rose encarar a vida no lado espiritual verá que tivemos muitas
vidas passadas antes desta, a qual vivemos e talvez, Maria tenha representado um
papel íntimo em suas encarnações passadas.
     _ Você está confusa Cida, isso não existe, isso é coisa que as pessoas
inventam para justificar seu lado homossexual.
        _ Rose, se você duvida tanto, por que está estudando espiritismo?
        _ Quer saber de uma coisa, Cida? Sou igual a São Tomé, tenho que ver para
crer.
     _ Pois se é assim, como me explica a sua tendência a gostar de sentir essa
sensação estranha pela professora Maria?
     _ Foi apenas um deslize que tive, talvez uma empolgação pelo modo dócil
dela falar.
     Chegamos na casa da Cida, nos despedimos e eu comecei a ficar irada com a
idéia, contrária aos meus preceitos. Como eu, Rose, poderia estar ficando louca a
ponto de sentir atrações por uma mulher? Ridículo.
     E o tempo se passou, eu procurava disfarçar essa minha tendência, que a cada
dia surgia com mais força, principalmente nos dias de aula. Era uma tortura a
manifestação desse desejo que agora existia dentro de mim.
    Era uma mudança a qual eu não aceitava e tampouco entendia o porquê ou
como isso foi acontecer. Até que tudo na vida tem explicação às soluções de
minhas perguntas, vieram-me como respostas.




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Socorro... Erraram meu sexo!

                                  CAPÍTULO 2
               O REENCONTRO COM O MEU EU OCULTO


     Alguns meses se passaram na minha luta de conhecimento desse novo Eu,
vivia angustiada, profundamente revoltada e confusa entre meu sexo e meu desejo,
pensava em voltar a ser como nasci, uma mulher. A cada música que ouvia, o
perfume igual ao dela, fazia-me pensar naquela figura feminina. Obsessão, eu
gritava comigo mesma, castigo do céu e nas minhas orações implorava a todos os
santos, a Deus, a Cristo, que tirassem do meu peito esse amor ou paixão que existia
dentro de mim. E de repente deparei-me com nova tendência, a de escrever.
Poesias lindas, pensamentos profundos. Em meus pensamentos a Musa inspiradora
era ela, Maria. E todos os escritos passavam pelas mãos de Maria, que me
incentivava e achava lindo o que eu escrevia.
     Sem coragem de me declarar, de me abrir com ela, dizer o que estava
acontecendo, passava os dias das aulas como se nada estivesse acontecendo. Nessa
fase tão crítica da minha vida, descobri grandes amigos, eles me ajudaram a
assumir este novo Eu. Suely cursava o último ano do curso de médiuns, em uma
das saídas começamos a conversar, pegamos amizade. Ela ajudou-me a me
conformar. Em uma de suas vindas à minha casa, lendo algumas poesias deu-me a
idéia:
     _ Rose, porque você não escreve um livro sobre sua vida?
     _ Bem, Suely, a minha vida é tão comum, igual à vida de inúmeras pessoas
que vivem neste mundo de Deus.
     _ Acredito que não. Você não me falou que já esteve até em tratamento
psiquiátrico em um sanatório?
     _ É verdade Suely, de tanto querer ficar esbelta fiquei dependente de um
remédio inibidor de apetite, o que me levou até a inúmeras tentativas de suicídio.
Não sei dizer qual fase é a pior, se aquela ou esta que estou vivendo agora,
perdidamente apaixonada por uma mulher.
     _ Esqueça isso, Rose, tudo já vem escrito, se conforme. Talvez chegou a hora
de você encarar as pessoas diferentes aos padrões normais de uma sociedade. Já
nascemos para seguir um determinado padrão imposto por ela. Será que estas
regras são determinadas por Deus ou, pelas leis do Homem?
    _ É verdade Suely, apenas é uma forma diferente de amar, um outro irmão
com mesma característica física mas, o sentimento, o carinho é o mesmo de um
homem para uma mulher.
     _ Comece a aceitar essa sua tendência, nunca mate esse sentimento lindo que
surgiu em seu ser, para que você aprenda a amar a todos, sem preconceito de cor,
sexo ou raça.

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Socorro... Erraram meu sexo!

     _ É verdade Suely, chegou a minha hora, hora de encarar as pessoas
diferentes, aceitá-los do jeito que são, meus irmãos, filhos como eu de um único
Pai, os quais amam em igualdade.
    Suely era uma grande amiga, me dava a força que precisava, com palavras de
conforto, de carinho e aos poucos ia me conformando e cada vez mais pensava:
     _ E meus filhos, e meu ex-marido, minha família, como vão aceitar uma coisa
dessas? Por enquanto devo restringir aos meus amigos a revelação dessa tendência.
      Lembro-me que em uma Segunda-feira, por volta das 10 horas da manhã,
comecei a escrever sobre a minha vida atual. Nos fundos de minha casa morava
uma senhora, que em sua concepção eu era a filha que tinha morrido com 6 meses
de idade. A filha de Elisa Kary, em uma viagem para o litoral, passando pela praia,
em uma barraca de lanches parou para tomar um refrigerante. Segundo ela, o dono
da barraca começou a falar do pai dela, já falecido, como estavam seus avós, os
quais também já estavam, falecidos. E Kary perguntou-lhe sobre sua irmãzinha que
há 50 anos havia falecido. E o senhor respondeu-lhe que ela já estava em outra
vida, pertinho de sua mãe. Por dedução, era convicção de Elisa, que eu era essa
filha, que em outra vida a deixara e que agora estava ao seu lado. Se tudo tem
lógica, essa história não é tão contraditória pois, a ligação que tínhamos era muito
forte. Sr. Alfredo marido de Elisa, quando me separei e meu marido fez questão de
reaproveitar a lavanderia e o quarto da dispensa da minha casa e reformulou meus
cômodos em quarto e cozinha onde morou até falecer aos 76 anos.
     Nós éramos muito amigos, mesmo com uma diferença de 40 anos, eu o
considerava muito.
     Tudo ia acontecendo pouco a pouco em minha vida, não sabia mais em quais
coisas acreditar ou não acreditar, até aquele dia que eu descobriria toda verdade.
     _ Sim, existem vidas passadas e com certeza vivemos muitas vidas antes
dessa que estamos vivenciando. E nesse dia marcado por Deus, vida atual se
transporta para o papel, com muita facilidade, mas em um dado momento como
que aconteceu, quando fui na Cromoterapia, me parecia estranho, como se saísse
de meu corpo, me vi em outro lugar, alguém me chamava:
     _ Julius, venha seu pai acaba de falecer.
     _ Sr. Julius corra, sua mãe lhe chama.
     Olhei para a escada e a voz vinha do andar de cima, me apressei a subir as
escadas, correndo entrei no quarto à esquerda e deparei-me com um homem
estendido em uma cama e uma mulher me chamava com voz de tristeza e com
muita dor eu abraçava-a, era tão grande amor que eu chorava. Levantei correndo,
desci novamente as escadas e dei em um pátio com carro Ford tipo calhambeque.
Voltei em seguida ao quarto que estava escrevendo assustada, chamei por Elisa.
     _ Dona Elisa, a senhora não sabe o que aconteceu.


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Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Rose, quase chamei alguém, eu falava com você e você não me atendia. O
que foi isso? Seus olhos não piscavam, você ficou parada, só respirava.
     _ Não sei, Dona Elisa, o que aconteceu, só sei que está relacionado ao
espiritismo, ouvi falar alguma coisa sobre esse assunto no Núcleo. Fique calma,
vou perguntar para as professoras hoje.
    Já era quase 14 horas quando sai de casa pensando:
     Não sei onde eu estava com a cabeça quando entrei nesse negócio de
espiritismo, fiquei totalmente louca, sentindo atração por uma mulher, indo sei lá
para onde fui. Se eu continuar assim, com certeza minha família vai me internar
em um sanatório novamente.
    Cheguei ao Núcleo e a primeira pessoa que encontrei foi a Maria.
    _ Maria – eu gritei já da porta da entrada – preciso falar com você.
    _ Calma Rose, o que aconteceu?
     _ Não sei. – chegando perto dela tive o maior susto da minha vida. – Você é
aquela mulher.
    _ Que mulher Rose?
    _ Aquela mulher de hoje de manhã.
    _ Calma, sente-se aqui do meu lado e explique.
    Expliquei a ela todo o ocorrido e ela sorrindo explicou:
     _ Rose é normal esse tipo de situação, procure ficar calma pois, tudo o que
você viu foram acontecimentos de sua vida anterior a esta.
     _ Porque acontece tudo de uma só vez? Mas, Maria eu era ele, sentia a mesma
sensação de dor, da perda de meu pai. Até hoje estou falando como se tudo o que
vi fosse verdade.
    _ Mas foi verdade, somente um passado que você recordou.
    _ Maria, parecia minha mãe ser você, é possível, realmente verdade ou fruto
de minha imaginação.
     _ Por que não Rose? Não me aprofundei em saber o que fui em vidas
anteriores, mas só posso te afirmar que somos iguais a um imã, que nos atraímos
pelos mesmos pensamentos, mesmos ideais, mesmas afinidades.
     _ Se eu contasse a alguém, jamais acreditariam, é absurdo, justo eu Rose,
deveria ter que comprovar que tudo que vocês me ensinaram na sala de aula é
verdade?
    _ Talvez, Rose, porque você é do tipo que tem que ver para crer.




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Socorro... Erraram meu sexo!

     _ É mesmo, tomara que só passa, dessa experiência, essa comprovação, de
que somos um todo, com passado, presente e futuro, e o presente, que fazemos no
dia de hoje, é o fruto do amanhã.
    _ Fico contente, que você como professora, seria impossível eu não aprender.
    _ Rose, você me deixa lisonjeada.
    _ Eu só falei a verdade.
    _ Você já acabou seu tratamento?
    _ Já, acabei a semana passada.
    _ E como você está se sentindo?
     _ Muito bem, sei que terei a benção de me curar, pois, há quatro anos atrás,
quando o médico achava que o tumor que eu tinha na tireóide era maligno, quase
enlouqueci mas, graças a Deus, era apenas um nódulo, sem malignidade.
     _ Talvez Rose, fosse apenas um alerta para que você acreditasse em uma
força superior.
     E logo, foram chegando as outras professoras, os outros alunos e eu vendo
aquela situação engraçada, pois, agora eu tinha um amor imenso por Maria, mas,
nada de sentimento de possuir, de sexo, mas um amor que jamais havia sentido, era
de muita paz, alegria por estar ao seu lado, por vê-la. Assim me senti aliviada,
segundo o que estudávamos era o Amor Universal, afinidade de passagens que se
tem em outras vidas anteriores, como papéis de pais e filhos ou até mesmo casal
que desencarnaram e quando se encontram novamente em outras vidas, existe um
grau de amizade e afeto muito grande. Ficam contentes por se encontrarem e um
sorriso vem do inconsciente por perceber que se trata de um reencontro mas, no
consciente, essa lembrança só se faz, no momento do conhecimento naquele dado
momento.
     Se eu fiquei contente? Vibrei por esse amor a Maria ser só natural. Como
fiquei aliviada e contei à Cida e Suely.
    _ Estou tão contente que tudo não passou de uma recordação maternal!
    _ Não acredito Rose, espero que essa história pare por aí. – disse Suely.
    _ Suely, você é minha amiga ou não?
     _ Sou, por isso te conhecendo, te ouvindo falar de como encara a vida.
Existem em seu coração muitos preconceitos, muitos tabus que devem ser
quebrados. Vamos dizer que a reforma interna que tanto falam no Núcleo, seja as
barreiras que devemos quebrar em nós mesmos.
    _ Talvez possa acontecer novamente mas, espero sinceramente que essa
experiência pare por aqui.



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Socorro... Erraram meu sexo!

    E os meses passaram, chegaram as férias de julho e eu iria voltar ao curso,
somente no mês seguinte.
     Minhas tendências se desfizeram, como que por encanto. Comecei a namorar
e a minha vida começava a voltar aos padrões normais, segundo eu mesma tinha
por convicção. No entanto, minhas relações não eram normais com o sexo oposto,
fugia do meu namorado com muitas desculpas quando tínhamos que nos relacionar
mais intimamente. Ele não entendia e ficava aborrecido com aquela situação até
que decidi romper esse namoro depois de um mês. E como se eu tivesse escrito no
além, ela me apareceu.
     Lembro-me da hora exata que o grande amor do meu ser, retornaria a me
fazer em visão. Como eu e a Cida éramos muito amigas, ela me acompanhou em
uma visita a uma amiga que estava acamada. Eram seis horas da tarde e Francisca,
com plena recuperação de sua enfermidade, nos perguntou sobre o espiritismo, o
que vivíamos, estudávamos e outras coisas, até que minha curiosidade me fez
perguntar:
     _ Francisca, nunca eu vi você tão interessada em alguma religião, porque
tanta curiosidade?
     _ Sabe Rose, a minha vizinha pertence ao Núcleo que vocês duas freqüentam
ela vive me contando histórias de que tivemos outras vidas além dessa que estamos
vivendo e a minha curiosidade é muito grande pois, gostaria de saber o que fui em
minha vida anterior.
     _ Francisca, tive uma experiência já um mês atrás e digo que tudo isso é
realmente verdade.
     _ Conte-me Rose, por favor.
     Relatei o ocorrido e ela ficou desesperada por saber como fiz a minha
regressão.
     _ Francisca, pelo o que estou sabendo, médicos especialistas já fazem como
terapia, esses tipos de regressões. Segundo livros já existentes no mercado, esses
médicos encontram traumas em seus pacientes observando os fatos de suas vidas
passadas.
     _ Como?
    _ Eu acabei de ler um livro desses e muitos relatos e a conclusão foi a de que
muitos medos têm como fruto, fatos da vida passada.
     _ Mas, como?
      _ Em um dos casos, a pessoa tinha medo de altura e ela tinha que se adaptar e
viver em um edifício em New York. Era tanto o medo dela, que não conseguia
ficar no edifício. O marido dela procurou um médico para que ela pudesse se tratar.
O médico fez a regressão em sua paciente e constatou que, no século passado ela


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Socorro... Erraram meu sexo!

vivia em um castelo na Escócia. Foi casada com um escocês excêntrico e esse a
prendia na torre do castelo, a submetia a sacrifícios e a prendia em correntes, sem
alimento e obrigada a saciar os seus desejos sexuais, de seus próprios empregados,
enfim a torturava duramente. Um dia, ele não satisfeito com as torturas, a jogou na
fossa do castelo.
     _ Que história horrível, Rose, não quero mais saber da minha vida anterior.
     _ Calma, Francisca, nesses casos o médico consegue tirar o trauma de seu
paciente. Depois do tratamento, essa mulher até melhorou, seu relacionamento
com o marido.
     _ Então, em casos especiais, essas regressões são aconselháveis?
     _ Acho que sim Francisca. Se Deus nos dá o esquecimento dessas lembranças
de vidas anteriores é que, segundo a minha opinião, não precisamos delas para
viver nossa vida atual.
     _ Rose.
     _ Sim, Cida.
     _ Você então, precisará dessas lembranças do ..., como é o nome dele?
     _ Meu personagem anterior?
     _ Sim.
     _ Julius, Cida.
    _ Alguma coisa me vem como intuição de que você voltará a reviver a
experiência da regressão.
      A noite já estava se fazendo quando tocaram a campainha, foi estranho, pois,
meu coração acelerou e Francisca foi até a sala de visitas. Ela entrou, meus olhos
fitaram os dela, me arrepiei toda e Francisca, sem perceber o que estava
acontecendo nos apresentou.
     _ Rose, esta é a minha vizinha que freqüenta o Núcleo. Silvia esta é Rose.
     Nos cumprimentamos, com um aperto de mãos e eu ao tocá-la senti meu
corpo fervendo. Ela foi cumprimentar a Cida e depois começamos a conversar
mas, eu não me sentia muito bem e pensava: - “Meu Deus, outra vez, não!”
     Silvia por sua vez parecia indiferente aquela situação, desejando cada vez
mais conversar. Meus olhos se perdiam naquela imagem, foi uma tortura, aquela
mulher me deixou com um desejo de abraça-la, beija-la e talvez ter uma
intimidade, mas, eu devia disfarçar pois, Silvia era mulher casada, senhora de 45
anos, mãe de três filhos. Apressei em ir embora e Cida se queixou.
     _ Rose, a conversa está tão boa, por que essa pressa?
     _ Cida, deixei meus filhos sozinhos e tenho que preparar a janta.


                                                                                      11
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Rose, seus filhos já estão bem grandinhos e além de tudo eu te conheço,
você não tem esse hábito de servi-los.
     Silvia com muita intuição, percebeu o meu desespero em não ficar ao seu
lado. Eu a adorava, mas, ao mesmo tempo ela me incomodava. E com um sorriso
nos lábios, Silvia pegou em minha mãos e disse:
    _ Calma Rose, o reencontro acontece. Deus nosso pai nos faz separar por
muito tempo, dois ou mais seres que se amam, que tem afinidade.
     _ Desculpe-me Silvia, mas é nova essa sensação para mim. Aliás a minha
vida se tornou cheia de surpresas, mas infelizmente tenho que ir, cuide bem de
nossa amiga Francisca.
     _ Claro Rose, se puder me telefone. Vou anotar o número.
     _ Silvia, anote o meu telefone, assim você me telefona, afinal eu não sei qual
hora do dia seria mais conveniente estar falando com você, já que tem família e
marido, e sei como eles não gostam de ser incomodados.
     _ Está bem Rose.
     Despedimo-nos e eu e a Cida fomos caminhando até a minha casa, como era
de costume, aos sábados fazíamos um lanche rápido e começamos a conversar.
     _ É Rose, a vida tem que te ensinar na própria vivência.
     _ Infelizmente vejo também neste prisma, pois, as coisas acontecem de
instante em instante e uma mulher abalou-me novamente.
    _ Vou te apresentar uma amiga que foi minha professora de magistério, ela é
assumida e vai te explicar muitas coisas.




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Socorro... Erraram meu sexo!

                                  CAPÍTULO 3
                    O COMEÇO DE UM APRENDIZADO


      Um mês se passou depois de meu encontro com Silvia. Ela me telefonava,
conversamos muito sobre o espiritismo e aquela empolgação do primeiro encontro
já havia passado. Voltei ao normal, assim era o meu pensamento, mas, um dia
resolvi abrir um pequeno negócio de cosméticos, o problema de simpatia pelo
mesmo sexo haveria de continuar. Arrumei uma sócia e começamos a tocar a loja
em um bairro de São Paulo. Bem relacionada, Marta começou a fazer parte de
minha vida, do meu lar. Seus amigos e amigas passaram a ser meus amigos e
amigas, até que outra mulher haveria de balançar meus sentimentos novamente,
aliás, tornou-se uma rotina os impulsos ao sexo feminino, muito elegante, graciosa,
cheia de charme, Samanta foi apresentada a mim. Pobre e velho coração, como
disparou ao vê-la, tanta beleza plasmada em um corpo tão pequeno de uma mulher.
Procurei disfarçar meus impulsos e cumprimenta-la normalmente. Pelo seu
serviço, ela devia se manter elegante em suas vestes e assim ela se mostrava mais
atraente aos meus olhos. Sua fala rouca, seu jeito dócil de pronunciar as palavras,
encantava-me. Samanta era toda feminina, passava-me ela os encantos e a beleza
de uma mulher. Sentia-me ao vê-la um homem, que estava atraído pelo sexo
oposto mas, eu não aceitava esses impulsos. Fiquei até pensando que alguém tinha
feito uma macumba para mim, e por dentro eu gritava desesperadamente:
     _ Não, não, não, não sou assim. É impossível, alguém fez trabalho para mim.
      E coragem eu não tinha de contar a alguém de minha família o que estava
acontecendo, que de repente adorava mulheres. Talvez se eu fosse a um médico ele
me incentivaria a acreditar que a decepção do casamento me trouxe a preferência
pelo mesmo sexo, talvez como opção mais adequada ao não sofrimento afetivo
mas, não era assim, pois, enquanto eu estava casada com o Paulo fui muito feliz e a
insatisfação partiu da minha parte. Como? Porque? O que aconteceu comigo?
     _ Essa mudança é do agrado de Deus? Meu Deus, porque eu tenho que passar
por essa humilhação?
    _ Meu coração parecia estar vazio, sem amor, sem nenhuma empolgação por
ninguém. Talvez essas mulheres fossem como Maria, alguém mais íntimo em
minhas vidas passadas.
     _ Continuei a levar a vida com meu curso Kardecista, lendo inúmeros livros
espíritas, enfim, querendo solucionar o meu problema.
     _ Através da insistência de Cida, o encontro com sua amiga aconteceu, era
uma quinta-feira, já noite, as duas vieram até minha casa. Depois das
apresentações, eu e Cíntia conversamos muito, sobre o homossexualismo.



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Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Talvez Rose, você tenha que conviver com seres desse tipo, gente igual a
todo mundo, que só tem de diferente sua preferência sexual. Que mal há nisso?
     _ Não sei Cíntia, acho muito estranho.
    _ Não é não Rose, só o tempo te mostrará a verdade que um dia a humanidade
compreenderá.
      _ Somos seres universais, livres, donos de nossas próprias ações, com apenas
a limitação de não prejudicar nessas ações, o nosso próximo, desde racional ou
irracional e, aliás, como você vem estudando o espiritismo não tem sexo, só
tomamos forma de homem ou mulher quando encarnamos neste planeta para
aliviar nossos Karmas.
    _ Você que estudou a Filosofia Rosa – Cruz, o que eles dizem sobre esses
Karmas?
     _ São dívidas que deixamos de cumprir em uma vida e resgatamos em outra
vida. Exemplificando-te, talvez você como Julius, abusou do sexo, maltratou
mulheres, assim você reencarnou como Rose, para na pele de uma mulher sentir as
mesmas dores que faz alguém sofrer.
     _ Então, se tenho que cumprir essa dívida em um corpo de mulher, porque
troquei os meus gostos sexuais?
     _ Rose, dentro de você há o seu eu real, seu espírito não mudou suas
tendências devido a sua forma de mulher. Talvez você tenha sido Roberto, Manuel,
Elias, Julius sempre do sexo masculino e de repente se vê como Rose e não se
conforma de ser uma mulher. Assim suas tendências brotaram novamente, ser o
que você sempre representou, um homem.
     _ Deus me livre, sou uma mulher, não sou um homem.
     _ Calma amiga, te ajudarei nessa sua resistência de se aceitar no seu
verdadeiro eu. – disse Cíntia sorrindo.
     E o tempo passava, eu e Cíntia pegamos uma amizade profunda, falávamos
em nossas conversas sobre o universo e com doses pequenas ela me fazia aceitar a
idéia de minha mudança. Se alguém pudesse ver o meu antes e o depois, poderia
chegar a conclusão de como fui uma mulher pois, sem que eu fizesse nenhum tipo
de transformação era visível, meu modo de andar, sentar, agir, era todo para o lado
masculino. Meus gostos em me vestir e o pior de tudo, se passasse uma mulher,
meus olhos perseguiam aquela imagem deliciando-me.
     Que explicação poderia ter, se não fosse espiritual?
     Como era de costume eu e Cíntia assistíamos a muitos filmes bíblicos sobre
assuntos de encarnação e reencarnação. Um dia assistindo um desses filmes tive a
visão de meu passado estar na tela. Assistimos ao filme e Cíntia voltou para sua
casa. Não conformada fui assistir o filme novamente e da tela viajei para o meu


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Socorro... Erraram meu sexo!

inconsciente, aproximadamente 1930, agora podia me ver, definir-me, como era a
minha aparência daquela época. Um jovem de 17 anos, alto, esbelto, olhos
castanhos, parecia estar em um bar, mas, reconheci uma confeitaria. Quando me
deparei com aquela visão, procurei sair daquele transe rapidamente, peguei um
papel e uma caneta e descrevi aquele pequeno instante vivido. Se puder, assim
definir o que estava acontecendo em minha própria experiência como se eu
deixasse o meu corpo de Rose e entrando no corpo de Julius em um tempo e
espaço que não era o mesmo que eu vivia e automaticamente escrevi o que sentia.
     Nessa confeitaria Julius se embriagava com wisky, escrevendo também podia
sentir minha embriagues, mas, continuando em detalhes o meu relato como na
realidade me aconteceu, a minha verdade, que jamais poderia inventar, uma
história que a cada instante eu vivi, senti as dores, o sofrimento desse meu
personagem anterior da minha vida passada. Ficou claro para mim a certeza de que
tudo isso aconteceu no meu passado e fazendo-me hoje eu ter reencontrado o meu
“Eu oculto”, as respostas dos meus porquês. Obrigado a Deus, eu sempre
agradecerei pois, apesar de muitos me chamarem de louca, estou de bem comigo
mesma, pois, a verdade me foi relatada em detalhes. Agora a partir dessas linhas a
seguir, estarei escrevendo, a quem interessar, que nada acontece por acaso, tudo
tem uma razão de ser.
     _ Julius, pare de beber, ela não é merecedora desse tão grande amor.
     _ Leonardo, essa mulher para mim é a luz das estrelas, o Sol que irradia o dia,
a rosa a desabrochar em um jardim. Sem ela, amigo, minha vida será sempre sem
razão de ser.
      _ Julius deixe de bobagens. Jenifer te ama, tem a sua idade. Miriam é velha,
feia, baixinha e agora, você pode notar, está acompanhada de seu marido.
     _ Sei disso Léo mas, como deixar de olha-la, de recordar que alguns dias atrás
ela se deliciava de prazer em meus braços, naquele quarto de hotel.
     _ Julius, tome essa fase de sua vida como uma aventura de um jovem de 17
anos com uma mulher de mais de 30.
      _ Trinta e oito anos Léo, ela ainda continua com a formosura daquela foto que
ela tirou em Dover, sua cidade natural, quando tinha 17 anos.
     _ Desculpe-me amigo, só vejo esta beleza que me falas, em seus olhos
apaixonados.
    _ Pare com isso Léo, quatro anos de convivência não são quatro meses, nesse
tempo, ela me encantou, me enfeitiçou. Você sabe como a conheci?
     _ Sei Julius, mas conte-me novamente.
    _ Lembro-me Léo, era uma quarta-feira, garoa fina caia do céu aqui de São
Paulo, papai e o Sr. Jorge conversavam na biblioteca, mamãe e Miriam
conversavam na sala de estar. Eu tinha 13 anos, já ia completar 14. Dia 12 de

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Socorro... Erraram meu sexo!

janeiro, às 14 horas, pois, terminava minha aula de alemão. Descíamos as escadas,
eu e Dona Franolawin, que só dorme em aula.
    _ Dorme em aula Julius?
    _ Para você ver Léo, toda vez que começo a ler os textos ela dorme.
    _ Você já falou a sua mãe?
     _ Adianta Léo? Ela acha que é implicância minha. Sempre após a leitura
tenho que acorda-la.
    Léo sorri em tom de deboche e fala:
    _ Julius, você é demais, continue sua história.
      _ Bem, Léo, descemos a escada e quando meus olhos, já no meio da escada a
fitou, me apaixonei. Desci mais rápido deixando a Sra. Franolawin para trás e
adiantei-me na apresentação.
    _ Boa tarde, senhoras!
    _ Julius, essa senhora é a Dona Miriam, esposa do Sr. Jorge, que vendeu as
máquinas de beneficiamento ao seu pai.
    _ Muito prazer, senhora Miriam.
    _ Muito prazer Julius.
    _ Ah! Léo, quando ela apertou minha mão arrepiei-me todo. Depois dos
cumprimentos pedi a mamãe que deixasse fazer parte de suas conversas.
    _ Ela deixou, mas antes consultou Miriam e ela falou:
    _ Claro Sra. Condessa, é muito prazeroso conversar com os jovens. Eles são
muitos idealistas e aliás, como a senhora sabe, tenho quatro filhos e se não me
engano com a idade de Julius. Quantos anos tem?
    _ Quatorze, senhora.
    _ Julius, Julius, você só tem treze.
     _ Mamãe a senhora tem consciência que dia 26 de fevereiro já completo 14
anos.
    _ Mas, Julius, ainda não completou.
     _ Deixe-o senhora condessa, quando Julius completar os 30 anos não
adiantará sua idade.
     _ Léo, amigo, conversei com ela sobre Dover, sobre seus filhos, como eles se
adaptaram aqui no Brasil?
    _ Eles estudaram numa escola inglesa, não é Julius?
    _ Exatamente Léo, até que em um dado momento ela fez o convite.



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Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Que convite Julius?
     _ Não se lembra Léo? Que você me acompanhara todas as férias escolares
para a fazenda de meus pais?
     _ Claro Julius, até essa mulher aparecer em sua vida e você ir todas as férias
para o litoral.
      _ Foi nesse dia que ela me convidou, contra mamãe, que desde o acidente que
tive na árvore não mais se desgrudou de mim.
     _ Que acidente Julius?
     _ Um acidente que tive aos cinco anos, quando subi em uma árvore caí e
fiquei em coma. Assim, papai foi quem deu consentimento para minha viagem e
mamãe teve que aceitar, é claro. E tudo começou, lembro-me como se fosse ontem.
No dia 13 de junho, uma segunda-feira, mamãe me ajudou a arrumar as malas.
Hélio, nosso motorista, levou-me até a casa da praia, Miriam, me esperava desde a
entrada do portão do jardim. Desci do carro e andamos juntos até a casa.
     _ O que vocês conversavam?
     _ Muitas coisas Léo, você sabe que Robert tem uma deficiência, é horrível
Léo, quando ele tem crises, berra como um animal. Miriam muito liberal me fez
uma pergunta logo no primeiro dia.
     _ O que ela perguntou?
     _ Se eu já havia praticado o ato sexual.
     _ Não brinca? Ela estava mesmo mal intencionada.
    _ Então Léo, essa viagem que eu fiz no ano de 1926, a casa de praia era
somente para fazer companhia ao filho dela.
     _ Como você ficou a respeito de Robert quando o viu?
     _ Foi no jantar do mesmo dia que cheguei. Quando estava descendo do meu
quarto para sala de refeições, Miriam me chamou.
     _ Julius, venha até aqui.
     _ Caminhei ao encontro dela e lá estava ele na cadeira de rodas.
     _ Julius, este é Robert – disse Miriam.
     _ Senhora Miriam! – Eu o examinei – Esse é o menino que a senhora me
trouxe para fazer companhia?
     _ Julius, calma, ele é assim por minha culpa.
     _ Sua culpa?
    _ Sim Julius, tomei uns comprimidos para abortá-lo, ele resistiu mas, nasceu
com problemas de retardamento e atrofias gerais.


                                                                                     17
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Assim Léo, eu e Miriam saíamos com Robert todas as manhãs até que um
dia aconteceu. Estávamos a beira-mar e ela afagou meus cabelos e me deu um
beijo. Um romance que durou quatro anos.
     _ Sei Julius, que está sendo duro sua separação graças ao seu tio. Mas o Sr.
Francesco tem razão, como ficaria se algum jornal descobrisse seu romance? Pense
Julius... “O jovem Julius Adolfo Rufino, filho do falecido comendador Rufino, foi
visto nos arredores da Estação da Luz com a Sra. Miriam, esposa do Sr. Jorge,
representante de uma firma inglesa, cujo propósito é o de exportação de máquinas.
Os dois mantinham um romance secreto há quatro anos”.
     _ Que escândalo seria Leonardo. Olhe para ela ao lado dele. Não irei resistir,
estou muito embriagado, vou falar com ela.
     _ Não Julius, pense na sua namoradinha da escola.
     _ Ela acabou com a minha vida.
     _ Não Julius, não acabou, você é jovem, tem uma vida pela frente. Julius, o
Sr. Jorge vem vindo em nossa direção e ela se aproxima também.
     _ Rapaz, o que você tanto olha para minha esposa?
     _ Calma Jorge, ele é Julius Rufino, filho do falecido Rufino.
     _ Rapaz, você já bebeu demais.
     _ O que o senhor tem a ver com isso?
     _ Calma Julius. Jorge, deixe-me falar com ele.
     _ Julius, venha sentar-se nesta mesa.
     _ Miriam!
     _ Espere, deixe-me falar. Como poderíamos sustentar esse romance? Você vai
sair desse transe de uma louca paixão e notar que estava preso em uma mulher
mais velha, que tem a idade para ser sua mãe.
     _ Porque Miriam? Não pensou desse modo quando me envolveu numa louca
paixão?
     _ Julius, errei, mas eu estava carente, Jorge sempre me condenou por Robert.
Eu te juro Julius, não te via como um menino e sim como um homem que me
completava.
     _ Miriam, sei que agora me chama de menino, mas, antes a nossa diferença de
idade não te fazia nenhuma questão.
     _ Como Julius, que forças terei perante a sociedade que tem valores,
preconceitos em uma grande diferença de idades.
     _ Matarei-me Miriam, pois, não agüentarei ficar sem teus beijos, suas
carícias.


                                                                                     18
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Não faça isso, por favor, me encontrarei às escondidas com você.
    _ Não preciso de sua piedade, ou tenho você como esposa ou não a terei
jamais, pois, estou cansado de migalhas de tempo com você.
     _ Julius, por favor você está se sentindo mal?
     _ Jorge, socorro, o Julius, venha depressa.
     _ Miriam, ele está em coma. Mande avisar a condessa.
     _ Léo, chame o motorista da família de Julius, que eu sei o que o espera do
lado de fora.
     _ Sim, senhora Miriam.
     _ Julius, está muito mal, temos que leva-lo ao hospital.
     Neste instante, depois de escrever esta última frase, senti que não estava mais
envolvida no corpo daquele rapaz. Veio uma escuridão total, senti como se voasse
por um túnel e no fundo enxergava uma luz. Eu descia lentamente, como se
estivesse no ar, devagarzinho até que senti o chão. Procurei olhar ao redor, haviam
árvores gigantescas, eu corria por aqueles caminhos, ao fundo havia uma casa de
cor branca.
    _ Julius, alguém me chamava fixando – eu era um menino de 5 anos. – Seu
menino travesso, onde você estava? Estou te procurando já faz meia hora.
     _ Gina, você me achou? Eu estava me escondendo.
     _ Vamos tomar banho para esperar o papai e a mamãe chegar.
     _ Para que esperar a mamãe, ela não gosta de mim!
     _ Não fale assim Julius, ela é muito ocupada.
     _ Gina, o Nandinho meu primo, que tem a minha idade, já senta na sala de
jantar com o tio Victor e a tia Eloísa e a mamãe não me deixa ir.
    Caminhamos até a casa branca, passamos por uma porta de vidro e outra
senhora nos esperava.
     _ Gina, venha ver o que esse moleque fez?
     _ O que Julius aprontou dessa vez?
     _ Ele derrubou todo perfume e o pó de arroz da senhora condessa.
     _ Julius, você fez isso?
     _ Fiz Gina. Ela me bateu ontem. Quando você saiu, eu queria uma historinha
para dormir e ela falou que estava cansada. Você vai falar para ela?
     _ Se Gina não contar, eu conto.
     _ Sua bruxa, você Éster é muito feia, tem uma vassoura e voa.



                                                                                     19
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Está bem Julius, sou uma bruxa e vou contar tudo para sua mãe, e vai ser
agora, olhe no pátio, Hélio já está encostando o carro de sua mãe.
     Sai correndo pelos mesmos caminhos do jardim. Forcei a subida em uma
árvore e lá de cima via todos me procurando. Perdi o equilíbrio e escorreguei de
um galho batendo a cabeça no chão. Senti uma agonia, dor. Meu corpo todo doía,
faltava-me o ar, sentia sede gritava:
     _ Mãe, socorra-me, está doendo, estou morrendo. Mãe não me deixa morrer,
estou com medo do escuro.
    De branco, apareceu uma senhora:
    _ Quem é você?
    _ Sou sua mãe do céu.
    _ Eu morri?
    _ Não filho, você está dormindo.
    _ Dê-me sua mãozinha, vamos viajar?
    _ Mamãe, aonde vamos?
    _ Para um lugar aonde tem crianças iguais a você.
    _ Onde está o carro?
    _ Não vamos de carro, vamos voar.
    _ Voar mamãe? Eu virei um pássaro?
    _ Julius, você não é um pássaro, apenas no seu sonho, você pode voar.
    _ Que maravilha! Então vamos!
    _ Filho, não olhe para baixo.
   _ Mamãe, eu estou lá embaixo, cheio de sangue. Eu morri mamãe. Olhe
mamãe de verdade está me chamando.
    _ Calma Julius, se eu te explicasse, nunca entenderia.
    _ Não chores filhinho, logo voltarás.
    _ Eu quero minha mãe de verdade, não quero ir com você.
     _ Lá aonde vou levá-lo, descansarás um pouco, brincarás e logo voltarás para
sua casa.
    _ Lá tem doce mamãe?
    _ O que desejar filho.
    _ Você vai deixar eu comer o que quiser?
    _ Claro Julius.


                                                                                      20
Socorro... Erraram meu sexo!

      Era emocionante o que eu sentia naquele pequeno corpo infantil, a leveza do
vôo, as sensações de medo quanto mais alto subíamos. Do alto a terra de cor azul
anil. De mim saía um cordão prateado, precisamente do meu umbigo, que fazia
voltas, como uma espiral. Bolas e luzes passavam entre nós, paravam e
estranhamente eu percebia que elas nos cumprimentava. Fisionomias estranhas,
mas sentia segurança com aquela senhora. Até que chegamos, descemos
verticalmente e muitos seres estranhos me cumprimentavam.
    _ Quem são mamãe?
    _ Esta é a sua família de verdade.
     _ Então mamãe Rebeca e o papai Adolfo Rufino, não são meus pais de
verdade?
    _ Julius.
    _ Quem é você?
    _ Sou sua outra metade, o ser que te acompanha na eternidade.
    _ Vós estas tão bonitinho na forma infantil.
     _ Quero abraça-lo e dizer-lhe que essa separação entre os dois planos faz-me
bater a saudade.
     Quando eu ia me aproximar desse ser, não sei porque, a sensação que tinha
era de muito amor, o cordão prateado me puxava para baixo, eu descia, descia, eu
gritava Wei.2 meu amor, não deixe de me levar de volta. Anjo dos anjos, quero
permanecer ao seu lado.
    Nesta descida eu escutava alguém rezando. Abri os olhos em um despertar de
um sono profundo.
    _ Mamãe, onde estou? Miriam?
    _ Julius, você estava em coma. Graças a Deus você voltou.
    _ Mamãe sonhei que eu era uma criança, onde está Wei.2?
    _ Quem é Wei.2?
    _ É uma mulher mamãe. De olhos claros, cabelos amarelados. Vestia-se com
um macacão prateado. Linda, ela é linda mamãe. Parece um anjo. Sei que ela é a
mulher que eu amo. Desculpe-me Miriam.
    _ Que tens para desculpar Julius?
    _ Filho, irei chamar o doutor Alberto, dizer-lhe que já saiu do coma.
    _ Julius, agora que estamos a sós, você já está bem, irei afastar-me de você.
    _ Não, Miriam, te prometo que sem você, não tem razão de ser, vou me
matar.



                                                                                    21
Socorro... Erraram meu sexo!

    _ Julius!
    Neste momento entrou um homem no quarto:
     _ Senhora Miriam! Não lhe avisei que se a visse novamente com meu
sobrinho contaria do seu romance secreto ao seu marido?
    _ Sr. Francesco, apenas socorri Julius em sua embriagues.
    _ Então o senhor é o culpado tio? Eu te odeio!
    _ Julius, tente compreender.
    _ Não tio, não viverei sem Miriam vou me matar, já que sobrevivi a este
coma, na próxima vez terei sucesso em meu suicídio.
    _ Por favor Julius!
    _ Senhora Miriam, tire as mãos de meu sobrinho. Vá embora antes que a mãe
de meu sobrinho chegue.
    _ Não Miriam, fique, eu te amo.
    _ Seu carcamana, eu te odeio!
     _ Julius, compreenda, fará 18 anos em um mês. Irá herdar a herança de seu
pai. Terá que tomar a frente de seus negócios.
    _ Eu não quero dinheiro tio, quero a mulher que eu amo.




                                                                                  22
Socorro... Erraram meu sexo!

                                 CAPÍTULO 4
                          A BUSCA DE UMA VIDA


     Parei de escrever, voltei dessa viagem de dentro de meu eu. Parecia-me uma
tela mental, uma história que estava dentro de meu cérebro. Cíntia freqüentava a
minha casa constantemente, contei-lhe a história.
      _ Cíntia, como posso entrar e sair da minha vida passada com tanta
facilidade? Duas vezes acionei minha tela mental, como, não sei, mas consegui.
     _ Pergunte ao Núcleo onde você freqüenta, o que está acontecendo com você.
Parece-me que por algum motivo você aciona sua tela mental e volta a viver o seu
passado de uma vida anterior.
     _ Para você ver, Cíntia, eu não quero saber, reviver minha vida anterior
acontece-me espontaneamente.
     _ Não se atormente, Rose, há um ditado que diz: “Não há uma folha que cai,
se Deus não quiser”.
     E minha vida continuava do Núcleo à minha casa, procurava eu disfarçar o
lado que em cada dia ia se aflorando. Para mim era impossível disfarçar minhas
tendências. Todos os meus hábitos mudaram. Meu modo de andar, de sentar.
Todas as minhas amigas notaram nas minha mudanças eram evidentes mas,
espontâneas, não forçava nada.
    Cíntia ajudava-me a compreender, a entender as razões das razões, dessa
mudança. Será meu Deus, me perguntava, sempre fui isso e não sabia, porque eu?
     Há 13 anos sozinha, sem nenhuma inclinação a uma vida amorosa, solidão já
tinha superado. Meus filhos, minha alegria, cresceram. Os amigos deles superavam
a minha presença. Não fazia, assim tão necessária na vida deles. Começou nessa
fase deles na adolescência de 17 a 20 anos. Eu pensava, porque não ser feliz
novamente, não ter alguém que me complete. Mas será que eu conseguiria tocar
uma mulher? Credo? Seria ridículo, beijar alguém igual a mim fisicamente. Até
que um dia o destino me colocou à frente desses pensamentos para quebrar esse
preconceito.
     Cíntia e eu fomos a um supermercado, era incrível a minha nova
personalidade, de tímida e recatada fiquei uma ótima paqueradora. Minhas
conversas, minhas conquistas, tinha, como se fala na gíria, um ótimo jogo de
cintura. Aonde eu pensava estava esse meu eu? Até dei um cartão pessoal a uma
moça que trabalhava no supermercado de segurança e por incrível que pareça, ela
aceitou o convite, de vir à minha casa no sábado. Rezei muito a Deus para ela não
comparecer ao encontro mas, minhas preces não foram atendidas, pareceu. Minha
casa, como sempre estava com amigas jantamos e nos dirigimos à sala de visitas.
Cíntia então me preparou a grande aventura da minha vida, o começo de retornar a

                                                                                  23
Socorro... Erraram meu sexo!

minha real personalidade. Pediu a Karyn que fosse conversar comigo, no meu
quarto e tudo aconteceu. O tabu de que uma sociedade tinha me imposto desde o
meu nascimento de:
    _ O homem e a mulher deveriam se casar e procriar, nesse dia haveria de se
acabar em meu ser. Porque haveria de ser assim, se eu me identifiquei tanto com
uma mulher. No ato em si, um outro eu parecia explodir no meu ser, um homem!
Mas, minha dúvidas haveriam de continuar será que não estou influenciada por
algum espírito obsessor? Será que não fizeram algum trabalho para eu virar um
homem?
    No meu preconceito só tirei a conclusão de que gostei mais do ato sexual com
uma mulher do que com um homem. Olhando-me no espelho falei:
     _ Rose, você nunca irá assumir uma mulher, ou declarar-se perante uma
sociedade, que você é isso, um homossexual. E apesar de ter gostado muito de
Karyn, não desejei continuar este relacionamento, assim tudo passaria apenas por
uma noite.
     Cíntia achou ridículo eu ter jogado fora um começo de felicidade mas, como
ela sempre dizia:
     _ É duro essa aceitação, precisa ter coragem para enfrentar a si mesma em
primeiro lugar. Depois passar aos outros, a uma sociedade, que somos diferentes
aos padrões de normalidade exigidos pela mesma. Mas haverá o dia de sua
aceitação.
     Minha vida continuou, o primeiro ano de meus estudos no Kardecismo
acabaram mas, minha querida professora Maria sempre estaria no meu coração,
não como um amor de carne e sim como um amor de espírito. Uma grande amiga,
não de convivência no dia a dia e sim, alguém que nas horas mais críticas, me
passava uma palavra de otimismo.
     Da leitura fiz a minha aliada, parecia que eu queria descobrir todos os
segredos. Muitos livros espíritas passaram aos meus olhos mas, nenhum poderia
me dar a resposta que eu procurava. Pensei no Núcleo onde diziam que é preciso
fazer a reforma íntima, se conhecer profundamente e corrigir os erros. Assim
pensei:
     _ Tenho que deixar o medo de lado e procurar dentro de mim mesma a
verdade ou respostas para as minhas perguntas. Parece fácil mas, não é, consiste
em uma guerra de personalidades entre o consciente e o inconsciente. Deveria eu
brigar com duas personalidades, do que eu apresentava ser como Rosangela e a
minha personalidade como um espírito errante de séculos, de várias outras
encarnações. Tinha essa certeza pois, tinha passado a experiência de uma
regressão. Pesquisei muito e comprovei, que todo ser traz consigo seqüelas de
outras encarnações. Era fácil para mim, saber se tudo que escrevi era verdade,
Julius viveu em São Paulo a mesma cidade na qual vivo, em 1930


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Socorro... Erraram meu sexo!

aproximadamente mas, quando ele faleceu, preciso saber o nome dele completo.
Perguntei para várias pessoas do kardecismo qual o risco de uma profundidade em
uma vida anterior e com palavras diferentes mas, com a conclusão:
     _ Se Deus nos dá o esquecimento de quem fomos em nossas vidas passadas e
que não temos a capacidade de resistir à verdade.
    Alguns chegavam ao extremo:
     _ Já pensaste Rose, se descobríssemos que um de nossos filhos nos matou, ou
nos destruiu em outras vidas. E agora nos foi dada à missão de amá-lo como fruto
de nossa carne e ele, por sua vez, se redimir de sua falha como filho carinhoso,
dócil, que vem auxiliar, zelar em nossa velhice?
    Mas tudo o que falavam para mim era em vão pois, eu pensava:
      _ Se Deus permitiu saber o que fui no passado de um modo espontâneo, ele
aguarda que eu cumpra alguma missão, talvez de futuros livros, que através da
escrita, de minha experiência, eu consiga confortar alguns corações aflitos, com a
ansiedade da verdade.
    Cida, minha companheira em minhas pesquisas pensava:
     _ Se Julius viveu em 1930, a morte de seu pai, o comendador Rufino, está
publicada nos jornais da época, e nas bibliotecas, com certeza, irei encontrar
alguma coisa.
     Fui até a biblioteca e através de microfilmes de jornais da época começou a
minha luta em saber se tudo era verdade. Tentativas inúteis pois, não tinham dias
consecutivos, e as datas previstas, do ano em que eu achava ter sido a morte do
comendador, os jornais não existiam. Mas, em mim, acontecia algo estranho pois,
por mais que eu penetrava na verdade, se era verdade se realmente tudo havia
acontecido, eu era puxada a um funil do tempo. Fotografias, prédios antigos,
faziam-me voltar ao tempo de Julius.
     Uma vizinha pediu-me para levar uma prima até Santo Amaro. Como não
tinha nenhum compromisso, resolvi fazer-lhe este favor. O ônibus saia da Estação
da Luz, chegando lá um impulso maior levou-me a entrar na estação deixando
Paula para trás e o funil do tempo me fez presente, tão claro em cenas de um tempo
que não era o mesmo em que eu vivia. De repente vi as pessoas se transformarem
com roupas de 1930, os bancos de madeira eram poltronas confortáveis e aquela
estação era, aos meus olhos, muito luxuosa. Tudo me passava como uma realidade
de que aquele tempo estava realmente acontecendo, era um transe que durou até
Paula me chamar:
    _ Rose, o que aconteceu? Está passando mal?
    _ Você está vendo Paula?
    _ Vendo o que Rose?


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Socorro... Erraram meu sexo!

    _ As roupas das pessoas.
    _ O que tem elas? São normais.
    _ Não Paula, elas se vestem como 1930.
     _ Pelo amor de Deus Rose você é louca. Minha prima me mandou com
alguém que não regula muito bem?
    Nesse instante sai do transe, olhei para Paula e sorri:
    _ Paula, eu só estava brincando.
    _ Brincando ou não, me leve de volta para a casa de minha prima.
    _ Não será necessário Paula, lhe levarei até Santo Amaro.
    _ Não sei não Rose, se eu quero ir com você. Acho que você não sabe muito
bem das coisas.
     Foi duro, mas consegui convencer Paula que não era louca e que sabia ir ao
local destinado.
    Depois da viagem de volta, vinha pensando:
     _ Meu Deus, se esses transes acontecerem com freqüência, o que farei? A
maioria das pessoas, como vão encarar? Vão pensar que sou uma louca com
certeza. Meu Deus, o que fiz na minha vida? E agora como voltar a ser como eu
era antes? Bem que me avisaram no Núcleo que é perigoso vasculhar o passado
mas, eu não fiz nada premeditado. Há amigos, irmãos espirituais, sem eles não
somos nada.
     Cíntia minha amiga, que te recordo, como foi importante nessa fase de minha
vida. Sempre me explicando as razões de que tudo ia me desenrolando, a minha
busca de omitir eu oculto, explicou-me o que aconteceu:
     _ Rose, os lugares que você esteve, as pessoas que conviveu, vão reviver em
sua mente, o portal do tempo. E as realidades vão te confundir pois, são
verdadeiras mas, somente aconteceram em épocas diferentes. São riscos que terá
que correr para quem sabe, descobrir sua verdade.
     _ Não me amedrontarei, diante do que irá me acontecer pois, está dentro de
mim, a busca da verdade e não me importa o que vão pensar de mim se sou louca.
O que me valerá é a paz de um dia estar bem comigo mesma. Quero te pedir uma
coisa Cíntia.
    _ O que é Rose?
     _ Fique sempre ao meu lado pois, sei que irei cair no poço mais profundo da
incompreensão mas, só irei fechar este portal do tempo quando eu descobrir que
tudo é verdade e tem razão de ser. Irei à busca de mim mesma, me procurar até me
encontrar.



                                                                                       26
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Conte comigo amiga! Vou segurar sua mão e te levantarei todas as vezes
que cair.
    _ Obrigada Cíntia por ser minha amiga, afinal: “Amigo é palavra linda se
soubermos cultivá-la em essência”.




                                                                                27
Socorro... Erraram meu sexo!

                                  CAPÍTULO 5
                           DE VOLTA AO PASSADO


     Como eu havia decidido ir até o final com tudo isso, deveria voltar ao passado
e terminar toda história. Amigos do Núcleo avisaram que era perigoso e que eu
poderia ficar presa no tempo e não voltar mais. Mas, sou aventureira e curiosa,
quanto mais lia, mais eu me conformaria com tudo o que eu escutei e li sobre o
espiritismo.
     Essa busca custou-me uma decadência em minha vida financeira, meu
negócio, minha loja, foi à falência. Marta começou a fazer de minha vida um
inferno. Surgiram fofocas que realmente não tinham razão de ser. Era engraçado o
estado de transe no qual eu me encontrava pois, tudo o que acontecia eu não me
dava conta e as pessoas se aproveitavam de minha fraqueza de estar ao mesmo
tempo em duas vidas. Só quem passa por essa experiência pode confirmar o que
estou descrevendo. Às vezes, ao me levantar pela manhã tinha a impressão de que
o meu quarto não era o mesmo tirava a blusa do pijama e saía do quarto, talvez
como Julius fazia. Via crianças jogar bolinha de gude, bola e queria participar. Por
alguns segundos eu revivia meu passado e me sentia aos 17 anos, era incrível pois,
me sentia um adolescente.
     Quanto aos meus filhos, algumas vezes me olhavam e achavam estranho e
antes de prosseguir nesta viagem conversei com os dois, expliquei tudo, os riscos,
as prováveis atitudes que eu iria tomar. Ambos compreenderam que tudo o que iria
acontecer seria para o meu bem e além de tudo, criei os dois não como filhos,
sempre fui à irmã mais velha deles. Liberal com os dois mas, ao mesmo tempo
dava-lhes alguns puxões de orelhas quando necessário, mas nada sério.
     Só pedia a Deus forças para resistir a essa experiência e um dia publicar em
um livro tudo o que aconteceu comigo. Não queria me promover mas, para mostrar
aos leitores que qualquer um de nós, seres do planeta Terra, podemos reviver nosso
passado, saber o que fomos mas, correndo o risco de nossas vidas atuais entrarem
em crise total. Foi duro me reerguer financeiramente mas, naquela época consegui
fazer acordo com os meus credores e sair do caos.
     Cíntia, minha grande amiga, ajudou-me a sair das fofocas. Parecia-me que
forças negativas inspiravam as pessoas para atormentarem a minha vida. Mas, se o
bem vence o mal, no mesmo tempo anjos do bem, iluminaram minha mente e as
soluções vinham em formas diversas, para sair dessa crise na qual eu me
encontrava.
     Minha mente foi motivada a voltar ao passado quando eu assistia a um filme,
havia um casa branca, logo que senti a recordação peguei caneta e papel para
registrar com detalhes a minha visão:



                                                                                     28
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Dona Mimi, como não me contaminei daqui, de sua casa?
     _ Impossível Julius, as moças passam regularmente por exames médicos e
nenhuma das meninas, segundo o Dr. Francis, tem qualquer problema de saúde,
elas estão ótimas. Você é muito volúvel, desde que o seu pai o trouxe, aos 14 anos,
para sua primeira experiência sexual eu já notei esse fato.
     _ Dona Mimi, eu só mantinha relações sexuais em sua casa e com Miriam.
     _ Ora pois Julius, está aí onde você pegou esta doença, com aquela
vagabunda. Veja só meninas, Julius acha que pegou sífilis com vocês e anda nos
hotéis com aquela sujeitinha.
     _ Que eu faço agora, Dona Mimi? A minha mãe vai se horrorizar, ela me tem
ainda como um menino. Como vou falar-lhe dessa doença?
     _ Julius, mandarei o Dr. Francis lhe fazer os exames. Qual o médico que te
falou dessa doença?
     _ Um urologista cujo consultório é na Praça da Sé.
     _ Julius, eles são uns carniceiros, devem ter tirado seus diplomas por
correspondência.
     _ Mas ele fez um exame de sangue. Olhe como está o meu corpo.
     _ Nossa senhora Julius, parece-me que é mesmo a doença. Filho, você cresceu
aqui conosco, virou um homem em nossas mãos, vou cuidar de você. Cristina
telefone ao Dr. Francisco peça que venha imediatamente aqui em casa. Célia,
prepare um chá de erva-cidreira. Vamos meninas, corram. Julius sente-se aqui e
fique calmo.
     _ Dona Mimi, não irei dar essa contrariedade a minha mãe, vou me matar.
     _ Pelo amor de Deus Julius, justo você que nos fala da vida após a morte.
Filho, faz tantos estudos com aquele padreco que te ensinou o que é um suicídio,
não Julius, não faça isso.
    _ Que graça a vida tem, se estou doente? Miriam não me quer, só vivo
bebendo, caindo pelas ruas, dando desgosto à minha mãe.
     _ Julius, você é rico, herdeiro de uma fortuna, filho único e sua mãe, pelo o
que seu pai dizia, era um doce de pessoa.
     _ De que me vale o dinheiro se a felicidade, Miriam me tirou no dia em que
ela não quis mais viver o meu amor?
     _ Julius, ela é mais vagabunda que todas as meninas pois, nós não fazemos do
ato sexual um momento de realização pessoal mas, sim momentos de trabalho.
     _ Mas, muitos almofadinhas iguais a você, filhinhos de papai, tirou-nos a
ilusão de viver de amor – disse Cristina.



                                                                                    29
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Sei disto Cristina, mas não tenho esse hábito de me envolver com donzelas
e deixá-las depois de me satisfazer. Respeito todas as meninas.
    _ Se todos pensassem como você Julius, muitas de nós não estavam nessa
condição de prostituição.
     _ Cris, lamento muito por você, és tão menina ainda e tens que se vender para
sobreviver.
     _ Sim Julius, ter um homem em meu corpo, sem que eu tenha nenhum prazer
nesse ato, às vezes choro eles pensam que é de prazer mas, na verdade é de
desgosto e nem por isso penso em me matar.
    _ Você não amou, não sabe o que é perder alguém tão importante.
    _ Você se engana Julius, a minha ilusão no amor foi com Cláudio, você o
conheceu.
    _ Ele era meu colega de escola mas, já se formou há três anos atrás.
     _ Lembra-se daquele concurso quatro anos atrás sobre gincana entre os
colégios?
     _ Lembro-me, era a melhor redação, a gincana era entre os colégios
particulares e do estado. Tivemos uma espécie de integração social, todos os
participantes visitavam os outros colégios.
     _ Lembra-se quando visitaram o colégio Caetano Campos? Aquele colégio da
Praça da República. Foi lá que tudo começou, estava cursando o último ano do
normal, a minha redação era a melhor do colégio e Cláudio com os seus amigos
fizeram uma aposta para ver quem iria me conquistar.
    _ Como você soube da aposta?
     _ Um de seus amigos me contou depois que a minha desgraça havia
acontecido. Ele sempre ia me buscar depois da aula, conversávamos e ele foi me
envolvendo com presentes, flores até promessas de um breve noivado. Meus pais o
adoravam.
    _ Seus pais Cris?
     _ Para você ver Julius, até namoro em casa tínhamos. Ele pediu ao meu pai
permissão para namorarmos, que por sua vez, velho aposentado com quatro filhos
maiores para criar, viu em Cláudio a sua solução financeira. Estávamos juntos há
seis meses, ele era carinhoso e demonstrava muito amor por mim e eu boba, cada
dia me entregava mais nesse sentimento. Até o dia que Cláudio convidou-me para
um piquenique no Parque do Ibirapuera e a aposta foi concretizada. Bebemos
muito até um beijo mais profundo ao ato em si. Aconteceu, entreguei-me a Cláudio
e por força do destino era meu dia fértil e engravidei.
      _ Que azar Cris, então aquele menininho da Sra. Márcia é seu filho? Ela nos
visita sempre acompanhada do menino e sua babá.

                                                                                   30
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ É meu filhinho Julius, que fui obrigada a entregar para eles.
     _ Conte-me em detalhes, porque não ficou com o menino? Parece-me, se não
me engano, ela fez essa adoção em uma das entidades que mamãe gerência.
Segundo ela, foi uma promessa para Nossa Senhora Aparecida, se Carlos seu filho
mais novo, fosse curado de uma doença infecciosa.
      _ Tudo foi um truque Julius. Quando Cláudio ficou sabendo da minha
gravidez, correu para contar a sua mãe. Ela foi a minha casa. Quando a vi
conversando, parecia-me uma bruxa dos contos de fadas. Papai e mamãe não
sabiam de nada, olharam-me com ódio. Eu sou a primeira filha e meus pais são de
família italiana onde filha que não é mais virgem é prostituta. Assim Julius, para
finalizar a história, eles deram um bom dinheiro aos meus pais e me levaram para
uma das fazendas deles, para que terminasse minha gravidez. Maltrataram-me
muito, Cláudio até trazia suas namoradas na fazenda para me fazer de empregada.
     _ De empregada Cris?
     _ Com uma barriga de quase oito meses ele me fazia servi-lo, arrumar suas
roupas de banho. Quando estávamos sozinhos ele me batia fortemente na barriga
dizendo que o bebê não poderia nascer pois, ele me odiava e também odiava o
bebê. Obrigava-me a ter com ele relações sexuais, o que me parecia pior que um
estupro. Quem me salvava era seu pai, o Sr. João, quando presenciava meus gritos
corria, me salvava e dizia:
     _ “Seu moleque, isso não se faz, um dia irá pagar o que está fazendo a essa
moça. Você é meu filho mas, se há um Deus no céu, irá se lamentar por tudo o que
está fazendo e prejudicando essa moça. Desculpe-o filha, ele é como a jibóia da
mãe e se eu permaneço ao seu lado é por minha posição social e o dinheiro da mãe
desse monstro”.
     _ “Porque, você, seu inútil, não diz isso na cara de minha mãe”.
     _ “Já falei que, um dia irei criar coragem e abandonar tudo. Não há dinheiro
que pague o sossego e a paz de espírito”.
     _ Foi ele quem me apresentou para Dona Mimi pois, já sabia que meus pais
não queriam mais me ver e eu não tinha outra escolha. Assim, depois que eu tive o
menino, entreguei-o na creche Maria das Dores, aonde imediatamente Dona
Márcia o adotou, e acabando minha dieta vim para cá.
     _ Que história triste Cris, sinto muito pelo seu destino mas, o Cláudio já teve
o que merece.
     _ O que Julius?
     _ Você não ficou sabendo Cris?
     _ Não, o que aconteceu?



                                                                                     31
Socorro... Erraram meu sexo!

    _ Mamãe contou-me, um dia desses no café da manhã, que iria visitar o filho
da Dona Márcia. Ao se jogar na piscina, bateu as costas na prancha e quebrou a
medula óssea, provavelmente ficará paralítico.
     _ Meu Deus Julius, é a justiça infinita. Julius o carro do Dr. Francisco acabou
de chegar, deixe que ele o examine e tenha fé em Deus que você irá sarar. Você é
muito bom Julius, não merece este destino. Fique aqui que vou abrir a porta, dê-me
licença.
    _ Dona Mimi, boa tarde. Cris deixou um recado em meu consultório que a
senhora pedia a minha presença. – disse Dr. Francisco.
     _ Sim Dr. Francisco, quero que o senhor examine esse rapaz.
     _ Mas o rapaz não é filho do falecido comendador?
     _ Sou sim senhor.
     _ E o rapaz não sabe que Dr. Alberto é o médico de sua família?
      _ Vamos deixar de falatório Dr. Francisco, o rapaz precisa ser examinado ou
seria contra a ética o senhor examiná-lo?
     _ Não Dona Mimi, aonde posso examiná-lo?
     _ Em meu quarto, irei acompanhar o exame de Julius. Vamos subir Doutor.
     _ Julius o que está acontecendo filho?
     _ O médico constatou sífilis.
     _ Deixe ver suas mãos, não melhor, tire suas roupas.
     _ Então doutor?
     _ Infelizmente Julius é sífilis, no segundo estágio da doença, veja as placas já
espalhadas pelo corpo. Você não sentiu um inchaço em seu pênis?
     _ Sei lá doutor. Minha vida sexual sempre foi muito agitada.
     _ Fique tranqüilo rapaz, ainda tem jeito, só que você terá que se abster de sua
vida sexual. Você tem vício alcoólico?
     _ Muito doutor. Chego até a beber uma garrafa de whisky.
     _ Não poderá mais beber se quiser se curar.
     _ Obrigado doutor.
    _ Tome essa receita e quando acabar os antibióticos, me procure em meu
consultório. Estarei lhe aguardando.
     _ Quanto foi a consulta.
     _ Cem réis.
     _ Aqui está o dinheiro.


                                                                                     32
Socorro... Erraram meu sexo!

    _ Julius, você não quer que o Sr. Adolfo te leve em casa?
     _ Não Dona Mimi, vou até a confeitaria do Sr. Marques me despedir da
bebida.
    _ Está bem Julius, se cuide.
     Nesse instante as paisagens se passavam com uma rapidez imensa. Era como
se estivesse com um controle remoto de um vídeo cassete adiantando filme. Eram
paisagens de um São Paulo antigo, trilhos de bonde, prédios antigos, até que as
cenas iam se normalizando e agora podia fazer-me de foco em uma avenida larga,
cheia de casarões.
     Lá estava Julius, pude sentir como me transformava nele, é como se eu saísse
desse corpo e tomasse o corpo dele pois, todas as sensações do alcoolismo eu
podia sentir. A fraqueza, suores, um estado de sonolência.
    Bateu a porta.
    _ Julius, outra vez meu filho? Porque faz isso? Cássio, Cássio, venha até aqui!
    _ A senhora me chamou condessa?
      _ Dê um banho morno em Julius e mande Georgina preparar um café bem
forte.
    _ Sim senhora, vou providenciar.
    _ Vamos Julius, ajude-me a tirar sua roupa.
    _ Filho o que é isso? Essas manchas em sua pele?
    _ Nada mãe. É melhor dizer a verdade de uma vez, é sífilis.
    _ Julius, pelo amor de Deus, o que você está me dizendo?
   _ É sim mãe. O médico da Praça da Sé e o doutor Francis da casa da Dona
Mimi confirmaram o diagnóstico.
    _ Cássio, Cássio!
    _ Sim senhora condessa?
    _ Telefone urgente para o Dr. Alberto e venha correndo. Espere.
    _ Sim senhora.
    _ Vê por favor se o meu cunhado está na biblioteca.
    _ Sim senhora.
    _ O que foi Rebeca, Cássio está apavorado? Chamou o Dr. Alberto.
    _ Julius está em coma alcoólico.
    _ Não, olhe o corpo desse menino!



                                                                                    33
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ É sífilis, tenho certeza. Não chore Rebeca, Dr. Alberto irá curá-lo. De certo
que ele pegou daquela vagabunda.
     _ Que vagabunda Francesco? Da casa das moças?
     _ Quer saber Rebeca, você é mãe e tem que saber.
     _ Saber o que Francesco?
     _ Julius mantinha há quatro anos intimidade com a mulher do Sr. Jorge.
     _ Com Miriam? Mas ela tem quase a minha idade.
     _ Para você ver Rebeca.
     _ Mas Julius há quatro anos atrás tinha apenas 14 anos, essa mulher não tem
vergonha de manter relações sexuais com uma criança? Francesco, você já contou
essa história ao Sr. Jorge?
    _ Calma Rebeca, temos imagem a zelar para a sociedade. Um escândalo seria
uma queda em todo o império que Rufino construiu com muito suor.
     _ Que vamos fazer, Francesco?
     _ Curar Julius e mandá-lo estudar em um colégio na Suíça.
     _ Não Francesco, não ficarei longe de meu filho.
     _ Você não ficará. Iremos alugar um apartamento para vocês dois e
continuarei cuidando dos negócios da família e mandando dinheiro.
    _ Ótimo Francesco. Mas a hora que Julius se curar vou falar com aquela
mulher.
     _ Com licença Sra. Condessa?
     _ Padre Martines, o Sr. é confidente de Julius e sabia do romance dele com
aquela mulher que tem 5 anos a menos que eu?
     _ Sabia, Sra. Condessa.
     _ Porque não me avisou?
     _ Calma Rebeca, Rufino pediu que ninguém te contasse.
     _ Mas Rufino já morreu há um ano.
     _ Pararam de se encontrar.
     _ Aonde meu menino se encontrava com aquela mulher?
     _ Nos hotéis Rebeca.
     _ Como Francesco se ele é menor?
     _ O que o dinheiro não compra?
     _ Meu Deus ela viu em meu filho um menino. Aquele dia que Rufino o
deixou ir à casa de praia dela foi contra a minha vontade. Padre como não percebi

                                                                                     34
Socorro... Erraram meu sexo!

antes. Julius não ia mais para a fazenda nas férias só ia para casa dela. Pensei que
fosse por causa de Jenifer. Ah! Moleque safado! Ele ficava com a filha para
conquistar a mãe.
     _ Calma Rebeca, vai subir sua pressão, padre faça alguma coisa.
     _ Calma Dna. Condessa.
     _ Padre Martines, retire-se de minha residência, por favor.
     _ Não Rebeca, ele não tem culpa, apenas se calou em pedido de Rufino.
     _ Veja, Dr. Alberto acaba de chegar, vamos dar um banho em Julius.
     _ O que houve Sra. Condessa?
     _ Examine Julius por favor.
     _ Nem preciso Sra.
     _ Porque?
     _ O Dr. Francesco é meu amigo íntimo e ele já se comunicou comigo.
    _Vamos levá-lo ao hospital para fazer-lhe todos os exames. Já providenciei
uma ambulância.
     Abri os olhos depois de ter ouvido eles conversarem e sentia dores na região
do fígado mas, adormeci novamente e nesse instante sai daquele corpo mas,
continuava vendo, só não sentia mais nada. Comecei a escutar alguém falando
mas, não reconhecia a voz:
     _ Julius você vai morrer, vai ser nosso, eles não vão conseguir te salvar.
    Desejei sair do transe mas, não me acovardei e mais ainda me sentia presa
naquele corpo. Julius estava dormindo mas, seu sono ele vivia cenas de terror.
     Não sentia medo mas, aquelas cenas eram verídicas, ele realmente as vivia.
     _ O que vocês querem de mim?
     _ Você amiguinho!
     _ Não, não quero ir com vocês!
     _ Você não tem escolha, irá se matar, sua bebedeira eles vão te curar.
     _ Porque vocês querem que eu morra? Ainda vou completar 18 anos. Por
favor, mamãe já perdeu o papai a um ano. Ela não agüentará me perder também.
Deixe-me em paz, por favor!
     _ Não, você já nos deu muito em bebidas, cigarros e diversões sexuais, agora
queremos sua alma para brincarmos com você, seu santinho. Você é muito bobo,
através de você nos divertimos. Ou você pensa que é tudo isso, és covarde e sem
nós nem terias o vício da bebida. Além do mais, seu amor já está conosco, só falta
você.


                                                                                      35
Socorro... Erraram meu sexo!

    _ Vocês mataram Miriam?
    _ Nós? Fale a ele Carla.
     _ O marido dela a matou e o corpo dela está no oceano. Seu tio contou tudo
ao seu marido e na viagem de navio ele a matou e jogou no mar.
    _ Não acredito!
    _ Então pergunte ao padreco onde está Miriam.
    _ Ele sabe que ela morreu?
    _ Não, ninguém vai descobrir, nós não vamos permitir.
    _ Porque vocês fazem isso?
    _ Eu faço isso, porque você me trocou por ela e quantas vezes vocês se
encontrarem nós iremos impedir.
    _ Não te conheço como não te quis?
    _ Não foi agora seu idiota! Foi em outra vida, você me deixou na igreja.
    _ Carla, como pode se aliar ao mal e estragar minha vida?
    _ Vocês se encontram em outra vida, ficam juntos e eu só tenho acesso a você
quando se faz carne.
    _ Meu Deus, quantos anos se passaram e o seu ódio não acabou?
     _ Dessa vez você será meu pois, irá se matar e ficar no mesmo plano do
inferno em que vivo. E os dois serão meus agora e não vão se encontrar.
     _ Não acredito nessa história, onde está meu Deus que não interfere em um
absurdo desses?
     _ Não adiantará ninguém interferir, te descobrirei em qualquer matéria, te
perseguirei sempre através dos séculos.
    _ Julius, acorde meu filho!
    _ Mãe onde estou?
    _ No hospital, você só chamava por Miriam, quem é Miriam?
    _ Uma colega de sala de aula.
     _ Filho. Dr. Alberto achou melhor te deixar alguns dias para ele realizar
alguns exames.
    _ Mãe, porque estou internado?
    _ Por excesso de bebida.
    _ Ah! Ainda bem.
     _ Filho, vou para casa tomar um banho e logo estarei aqui para ficar com
você.

                                                                                   36
Socorro... Erraram meu sexo!

    _ Mamãe, chame o Dr. Alberto.
    _ Está bem, filho.
    _ Enfermeira, por favor, chame o Dr. Alberto.
    _ Dr. Alberto!
    _ Sim, Sra. Condessa?
    _ Por favor te peço, não deixe que Julius saiba que eu já estou ciente de sua
doença.
    _ A Sra. é quem sabe, são problemas de família que não vou discutir.
    _ Obrigado Dr. Alberto, agora entre no quarto como se não houvesse nada.




                                                                                   37
Socorro... Erraram meu sexo!

                                 CAPÍTULO 6
                                  O SUICÍDIO


    _ Julius, está se sentindo bem?
    _ Estou, Dr. Alberto, queria pedir-lhe um favor.
    _ Já sei, não falar nada para sua mãe sobre a sua enfermidade.
    _ Obrigado doutor. Sabe o senhor sabe que ela sofre de pressão alta.
    _ Julius, o padre Martines aguarda já há muito tempo na sala de visitas. Posso
mandá-lo entrar?
    _ Claro que sim.
    _ Enfermeira, chame o padre Martines.
    _ Sim, senhor.
    _ Julius, como está?
    _ Padre Martines, não agüento mais a separação com Miriam, preciso revê-la.
    _ Impossível Julius, ela viajou com seu marido para Dover.
    _ De navio padre?
    _ Pelo o que eu soube, parece que foram de navio.
    _ Então não era sonho padre, estava acontecendo mesmo. Miriam está morta!
    _ Julius, como pode afirmar isso?
    _ Apenas intuição de um sonho confuso que tive mas, mataram a minha
amada.
    _ Procure se lembrar.
    _ Padre, haviam três seres afirmando-me que não me deixariam ficar com ela.
Que seu marido havia a matado e jogara seu corpo no mar.
    _ Sabe Julius, achei estranho essa viagem, ela nunca se separou de seu filho
doente mas, sabes que eles são protestantes e não se abrem comigo.
     _ Meu Deus, é fácil, para Jorge afirmar que Miriam jogou-se do navio e
abafar o escândalo. Tenho certeza que meu tio contou-lhe do romance de Miriam
comigo.
    _ Já pensou se essa sua afirmação for verdade? Jorge saber que foi traído por
uma criança?
    _ Padre nos meus estudos com você sobre o espiritismo.
     _ Pelo amor de Deus, fale baixo Julius, se descobrirem à igreja me condenará
a expulsão do celibato.

                                                                                   38
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Continuando padre Martines, meu envolvimento com Miriam em plenos
quatorze anos, tem razão de ser pois, foi com muito amor, não de uma criança e
uma mulher madura mas, de dois seres que já se conheciam antes, de outras vidas
talvez e se fez o reencontro.
    _ Se tudo tem uma razão de ser, esta afirmação pode estar correta.
     E as cenas iam se modificando, Julius estava no quarto de sua casa a sensação
que eu tive é que eu estava em um carro em alta velocidade e as paisagens iam
passando sem que eu pudesse definir o que via. Julius estava deitado em sua cama
com a cabeça sobre o colo de sua mãe.
    _ Mãe, eu te amo muito, você não pode imaginar o quanto.
    _ Então porque não para de beber Julius? Todos os dias você chega pela
madrugada, porque faz isso comigo já que declaras tanto amor por mim?
    _ Mãe, eu tenho que revelar um segredo.
    _ Que segredo filho, conte-me?
    _ Mãe.
    _ Espere Julius, vou atender a porta.
    _ Senhora condessa, Julius.
     _ Padre Martines, que bom que o senhor chegou, precisava mesmo falar com
o senhor.
    _ Fale senhora condessa, o que desejas de mim?
    _ Não é nada sério padre, era só o dinheiro do donativo para a igreja que
quero passar para o senhor.
    _ Vim falar com Julius, logo irei falar com a senhora.
    _ Bem, pelo visto o assunto que o senhor tem a falar com Julius é particular.
Esperarei o senhor na biblioteca, depois continuamos nossa conversa meu filho.
     _ Padre que bom que o senhor veio, tenho uma decisão para lhe comunicar,
mas, tem que ser confidencial.
    _ Uma confissão?
    _ Sim, e será como se estivesse no confessionário.
    _ Está bem Julius, fale-me o que está acontecendo.
    _ Padre Martines, vou me matar.
    _ Julius, você sabe pelo o que estudamos que em suicídio terás um sofrimento
muito grande.
    _ Sei disso padre Martines mas, sem o amor de Miriam não tem razão.
    _ Julius, o que vim lhe falar era sobre esse assunto. Miriam desapareceu.

                                                                                      39
Socorro... Erraram meu sexo!

    _ Como padre?
    _ Miriam não se comunica com seus filhos já faz um mês.
    _ Padre Martines, se ela realmente morreu será maior a minha vontade de
morrer.
     _ Julius, deves estar cheio de irmãos da terra lhe influenciando. Vá naquele
centro espírita para que possam curá-lo. Por favor Julius, estou notando a
influência deles no que falas.
    _ Seu urubu, vá embora, não quero mais falar com você.
    _ Mãe, mãe.
    _ Que foi Julius?
    _ Leve esse urubu embora, explique a ele que o dinheiro está com você e seu
amante.
    _ Que amante Julius?
    _ Você e meu tio são amantes.
    _ Julius, você está bêbado, que conversa é essa?
    _ Calma senhora condessa, Julius não sabe o que fala.
     Incrivelmente, escrevendo em detalhes o que via, eu sentia a influência pelos
mesmos sintomas de Julius e a influência no corpo inteiro. E a voz podia escutar
que vinha como pensamentos dele próprio.
     _ Vou beber até me matar Miriam não me ama, minha mãe está com meu tio
Francesco, eles mataram o meu pai. Vou descer até a cristaleira e pegar uma
garrafa de whisky, ter coragem e me matar. Vou pegar a lâmina de fazer barba e
me cortar os pulsos.
    _ Julius, vá acabe com sua vida!
    Nesse momento Julius teve um crivo de razão, tentou rezar e suas orações
eram confusas.
    _ Deus me ajude, tire essa idéia de minha cabeça. Não, não consigo, vou me
matar.
     Agora podia ouvi-los planejando a vitória, aonde Julius vai cumprir os seus
desejos do mal. Eram três novamente, uma moça e outros dois rapazes.
    _ Vamos influenciar o tio de Julius para nosso plano dar certo.
    _ Como?
     _ Fazer com que Francesco dê um litro de whisky para Julius, isso será a arma
para dominarmos ele novamente.



                                                                                     40
Socorro... Erraram meu sexo!

      Julius desceu uma escada que dava acesso a sala de estar, no final, em frente a
grandes portas de vidro que davam acesso à biblioteca havia uma cristaleira. Esse
detalhe foi o que mais gravei, dando a seqüência aos fatos que vi a seguir, me
chocaram muito, me marcam até hoje, Julius abriu a cristaleira a pegou uma
garrafa de whisky, nesse momento abriu-se a porta da biblioteca e pude notar os
três seres do além induzindo aquele senhor.
    _ Tenho que dar uma lição nesse mocinho, Julius não poderá continuar
bebendo, só em farras noturnas.
        E eles continuavam a soprar no ouvido do senhor como o pensamento viesse
dele.
     _ Vou fazê-lo beber todo esse whisky em um único gole, espero que esse ato
o faça refletir e parar de beber.
        _ Julius, venha até aqui.
        _ O que você quer Francesco?
        _ Cássio, Cássio.
        _ Sim, Sr. Francesco?
        _ Segure Julius e o traga para dentro da biblioteca e feche a porta.
        _ Francesco, o que está fazendo com Julius?
        _ Estou dando-lhe um corretivo.
        _ Mãe, ele quer me matar, não deixe que ele me mate.
        _ Francesco espere, abra a porta.
        _ Cássio, segure-o, pois irei fazê-lo beber todo esse whisky em um único
gole.
        _ Sr. Francesco, o senhor está ficando louco, não faça isso, por favor.
        _ Você está me sufocando tio.
        _ É para te sufocar mesmo, moleque. Não queria beber, então vai beber.
        _ Por favor, pare com isso.
        _ Por favor Sr. Francesco, deixe-o ir.
        _ Espero que aprendeu a lição Julius.
     _ Leve-o para cima Cássio, ajude-o no banho e mande Georgina fazer um
café bem forte. Preste atenção mocinho, já fiz sua matrícula para o ano que vem
em um colégio na Suíça.
    Cássio subiu com Julius para seu quarto, eu sentia toda sua embriagues. O
mordomo Cássio deu-lhe um banho pondo-lhe o pijama. Nessa parte eu comecei a



                                                                                         41
Socorro... Erraram meu sexo!

sentir um enorme peso em mim. Eram eles, os seres das trevas induzindo Julius a
se matar.
    _ Sua mãe está com seu tio Francesco, Miriam está com o marido viajando
em lua de mel. A lâmina, corte seus pulsos. Chore, a vida não tem mais valor
nenhum, vá ao banheiro pegar a navalha de barba e corte seus pulsos.
     _ Preciso me matar, vou me matar, adeus mamãe, adeus Miriam, se existe
outras vidas irei te encontrar.
     Julius induzido pelos pensamentos por seres das trevas foi ao banheiro pegou
a navalha e cortou seus pulsos. Senti a dor com muita intensidade como se
estivesse realmente naquele corpo. Era real eu Rose, estava vivenciando os
momentos agonizantes de Julius que tropeçava pelas paredes enchendo-as de
sangue, sua mãe entrou no quarto e assustada com a cena gritava.
     _ Socorro, acudam Julius está se matando. Filho, porque fez isso?
     Rebeca deitou Julius em sua cama e colocou sua cabeça em seu colo. Na
angústia da morte, ele não pronunciou nenhuma palavra e o meu envolvimento
naquele corpo acontecia com mais intensidade e de repente pude sentir a sensação
da morte, uma aflição intensa, uma dormência no corpo inteiro, parecia que o
corpo não obedecia aos comandos do cérebro e de repente, como se arrancasse um
corpo inerte, dando-lhe vida e outro corpo, Julius falecerá, tudo escureceu, a última
cena daquele quarto foi demais, da mãe de Julius em cima dele.
     Na escuridão envolvida ainda, no meu personagem todas as linhas a seguir
continuavam como realmente pude descrevê-las.
     _ Que escuridão! Fiquei cego? Onde estou? Mãe, onde estás? Que é isso? A
parede é rochosa? Quem vem vindo aí?
     _ Somos nós santinho.
     _ Quem são vocês?
     _ Somos seus amigos.
     _ Não os estou enxergando, levem-me para casa. Minha mãe tem posses, ela
os recompensará se me levarem até ela.
     _ Você está querendo nos comprar? Santinho, você já está entrando na nossa.
     _ Por favor, estou com sede, por favor quero água.
     _ Dê água a ele.
     _ Espere, essa água está salgada, parece urina.
     _ É isso mesmo santinho, você tomou seu mijo.
     Apalpando-o Julius gritou.
     _ Socorro, seu nariz é enorme, estou em uma caverna com um lobo?


                                                                                     42
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Você vai sofrer Julius!
    _ Não. – eu rodopiava estou ficando tonto. Que gosma é essa no chão que me
envolve? Que cheiro horrível é esse?
     E sem que me dessem uma resposta em todo sofrimento podia sentir muita
sede, andava e não chegava a nenhum lugar. Via uma luz se aproximando, sentia
nesse envolvimento que alguém o apalpava e molhava sua boca, Julius nessa hora
chamava:
     _ Mãe, mãe, dê-me amparo e luz e perdoa-me pelo o que fiz.
     Mas seus agressores sempre apareciam para atormentá-los e quando ele
suplicava a Deus misericórdia...
     _ Deus meu, tira-me daqui, se eu morri mesmo, juro-te meu pai, aprendi que a
vida é muito importante para ser tirada. Agora sei que é sofrer um espírito.
    _ Santinho, aqui não se fala em Deus, teus amiguinhos não vão te tirar daqui.
Cadê eles, que só vem aqui encher o saco?
    Quando iam judiar de Julius novamente, clareou-se tudo e pude enxergar três
homens e uma mulher se aproximarem de Julius e a mulher falou:
     _ Julius, seu estágio nesse vale dos suicidas terminou, vamos tirá-lo daqui.
     _ Quem és vós, anjos dos anjos, que sua luz arde-me os olhos.
     _ Sou sua amiga e com esses irmãos, estamos incumbidos de resgatá-lo e
levá-lo ao hospital.
     _ Quem intercedeu por mim junto ao pai?
     _ Foi sua mãe, que logo que desencarnou vem se incumbindo de ajudá-lo. Por
isso Julius, os laços afetivos que temos em nossa passagem pela vida na terra são
muito importantes pois, mesmo após a morte uma mãe nunca esquece do seu filho
querido.
    Pegaram-no pela mão e atravessaram uma parede de vidro. Nesse lugar o
chão era sólido e com um pote de barro ofereceram-lhe água. era tanta sede que a
mulher pediu a Julius.
     _ Julius, devagar, tenha calma na ingestão de água.
     Ele parou de beber, olhou através do vidro e eu através dele pude confirmar as
cenas mais horríveis até descrevê-las.
     Seres humanos, totalmente deformados de suas formas, alguns com
vestimentas sujas de sangue. Era impressionante de ver, a degradação de seres que
após a morte ficam monstruosos.
     _ Anjos dos anjos, que me livrou do sofrimento, não mereço mais privilégios
do que esses nossos irmãos que sofrem em espírito.


                                                                                     43
Socorro... Erraram meu sexo!

     _ Merece sim Julius, pois, apenas você foi levado a uma vida carnal, com
padrões de uma sociedade, que pôs regras, leis das suas próprias convicções mas,
nas leis de Deus, nas leis universais, somos livres e tudo que passamos desde as
alegrias até as decepções. São apenas dores que machucam os nossos corações
revertidas em lições para o aprendizado, para o nosso real ser. O nosso espírito.
    _ Minha mãe, porque não veio com vocês? Gostaria tanto de revê-la.
    _ Ela o está esperando na colônia de reformatório.




                                                                                  44
Socorro... Erraram meu sexo!

                                  CAPÍTULO 7
                       A COLÔNIA REFORMATÓRIA


     _ Pegue-me a mão Julius, iremos levitar.
      E pelas mãos da mulher, que parecia um anjo, pelos seus cabelos louros,
olhos azuis, de aparência muito jovem e pelos três homens que também apoiaram
Julius para levitar. Subiram até que chegaram a um lugar que do alto se avistava
um castelo, rodeado de árvores, lagos. Era-me emocionante pois, a sensação de
levitar eu sentia uma leveza e observei que Julius não estava mais ligado aquele fio
prateado. Desceram em posição horizontal e lá embaixo os esperavam duas
pessoas.
     _ Mãe, que bom te rever, estou emocionado pois, agora sei que a morte não
nos separou.
     _ É isso mesmo filho, você apenas voltou de mais uma representação da sua
vida de carne. Tem mais uma pessoa que te espera ansiosa.
     _ Miriam! Desculpe-me, fiquei tão emocionado ao rever minha mãe que não
reparei sua presença.
     _ Julius, espero que não me guarde rancor.
     _ Rancor, Miriam, por te amar tanto?
     _ Bem, vamos deixar que Julius se recupere e depois vocês falam com ele.
     _ Como chamas, anjos dos anjos?
     _ Wei.2, sua companheira de aperfeiçoamento.
     _ Então és minha alma gêmea?
     _ Não defino assim Julius, somos dois pólos que juntos formam uma só
energia. Quando um pólo está fraco o outro restituíra a energia necessária para um
bom desempenho da força energética. Até um dia universal sermos um ser que
com a nossa própria individualidade formamos a nossa própria força energética.
     _ É complicado Wei.2, mas fico contente por ter uma companheira nesse
plano que está sempre me zelando.
     _ Nós zelamos um pelo outro.
     _ Mas aposto que suas encarnações não são degradantes como as minhas.
     _ Julius, você apenas necessita de mais aprendizado do que eu.
     _ Vamos, ficará descansando tomando passes, água magnetizada até se
recuperar.
     _ Quero ver-me no espelho.


                                                                                     45
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Socorro... Erraram meu sexo

  • 1. Socorro... Erraram meu sexo! PREFÁCIO Este livro foi resultado de um trabalho de pesquisa ao encontro da profundidade do “EU” oculto. Muitos porquês, como aconteceu? Pessoas que no primeiro encontro juravam já terem se conhecido antes. Tantas coincidências, vidas que se cruzavam, com perspectivas da busca de explicações e soluções. Se tudo acontece por uma razão, nas dores mais profundas que machucam o coração, ou nas alegrias que transbordam o coração, a verdade tinha que chegar à tona. E tudo foi relatado com a precisão exata de todo o ocorrido. Nada foi mudado na sincronia dos fatos, apenas os verdadeiros nomes foram ocultados para que não se comprometa o dia a dia dessas pessoas, que fizeram parte fundamental dessa história. Que se vem a confirmar que talvez as respostas dos porquês, estejam em outra vida atrás, aquela vida que está guardada no nosso cérebro. Que somente nós podemos ter a vontade e o desejo de desvendar. Precisando de muita coragem, pois as lágrimas e a dor com certeza se farão presentes. Ficando assim à todos os leitores: “Nada é mistério, nada é magia, somos todos seres universais livres para entrar e sair, para desvendarmos o Mistério Universal, bastando-nos ter a coragem, a vontade de querer aprender. E confirmar que não estamos sós, nessa grande experiência da vida, somos personagens de uma grande peça teatral, onde começamos representar no nascimento e terminamos quando se fecham as cortinas ao chegar a morte física, mas continuamos a viver a nossa vida real, em outro plano. E muitas outras peças teatrais já representamos e com certeza iremos representar até chegarmos a plenitude espiritual, onde na perfeição seremos professores e viveremos apenas à ensinar!” Que tudo com certeza irá passar, só nos ficando as experiências e de cada representação, acumulados o amor que nos fica guardado, aos irmãos que representaram conosco, papéis de pais, filhos, amigos, amantes e até inimigos que com o passar do tempo verificamos que quem foi classificado por nós, nossos algozes, eram apenas aqueles a quem devíamos. E cumprindo nossos resgates, com certeza passaram a ser nossos irmãos queridos, pois todos nós fazemos parte de uma imensa família Universal. Regida por uma só força que nos guia, o grande Mentor Universal, o nosso Pai, a nossa Luz “Deus”. Ugnê 1
  • 2. Socorro... Erraram meu sexo! AGRADECIMENTOS Ao núcleo Espírita Segue a Jesus. Aos meus amigos do Núcleo que me ajudaram quando eu caí no abismo da incompreensão. Aos meus filhos, que sem eles a minha vida não teria sentido, obrigado Julio e Ricardo pela grande experiência da maternidade. Não podendo deixar em destaque as minhas amigas, que deram-me o verdadeiro sentido da palavra “amiga”, Terezinha, Suely, Maria, Cida e Sandra Catarina. E em especial a todos os amigos espirituais que deram-me a sustentação para realização dessa minha busca, para a minha verdadeira identidade, para o meu “Eu” oculto. E para o verdadeiro, o pai amoroso, compreensivo, que concedeu para mim essa experiência de mesmo nesse plano carnal, em pleno esquecimento, comprovar que à muitas outras vidas de carne, além dessa que estou vivenciando. Obrigado Pai, Querido “Deus”. Rosangela Mezzacapa 2
  • 3. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 1 A DESCOBERTA Na afirmação exata, que existe uma ou muitas vidas antes dessa, que eu estou vivenciando, acontece e aconteceram, inúmeras ocasiões que fico muito embaraçada com situações, diante da minha aparência física. Sou uma mulher de aproximadamente 40 anos, separada legalmente, mãe, mulher? Mas como se não me sinto realmente o que, aparentemente, me vejo no espelho? E se eu pudesse afirmar, se Deus ou a própria genética errou na formação fetal, daria como confirmação que pelo menos, no meu caso, alguém errou o meu sexo. Tudo começou muito tempo depois do meu nascimento, quando aquele ano eu iria completar 36 anos. Antes, porém, fui uma criança normal, cheia de encantos femininos. Na adolescência, o meu lado homossexual, passou desapercebido devido a toda uma criação puritana. Mas lembro-me, que em minhas brincadeiras de príncipes e princesas, eu sempre estava do lado masculino. Alguns doutores em psiquiatria, talvez me dessem um diagnóstico de um homossexual oculto desde a infância e com manifestação após a fase adulta. Sim, talvez, mas não a mim, que sempre condeno padrões anormais aos quais eu vivia. Cheia de preconceitos, eu nunca poderia admitir que eu era, o que eu mesma tanto condenava. Achava ridículo o amor entre duas pessoas do mesmo sexo. Se por acaso eu os encontrasse, fazia questão de me afastar o quanto pudesse, ignorando, recriminando, observando distante aquela situação a qual eu denominava ridícula e pensava em meu interior, como conseguiam viver assim? Uma aberração da natureza, eu pensava. Tudo o que era anormal em um casal, eu condenava, desde a diferença de idade, diferenças raciais ou qualquer outro tipo de diferença, para mim bastava ser diferente para ser condenado. Meu gênio sempre foi extremamente forte, nunca foi dócil, mesmo quando me submeti a um “casamento normal” perante a nossa sociedade. Algo me incomodava na vida conjugal, estava completamente insatisfeita e não conseguia visualizar o que provocava em mim tamanha infelicidade. Não poderia ser nenhum tipo de problema financeiro pois, minha vida de classe média se fazia normal. Fui vivendo assim, mesmo que infeliz. Fui vivendo até que não suportando mais tantas brigas e discussões, me separei aos 7 anos de casada, com 28 anos e dois filhos, decidi refazer minha vida. Procurei alguém que me completasse, mas infelizmente, nada me completava o que me trazia a certeza de que a minha cara metade não haveria de estar em um corpo do ser masculino. 3
  • 4. Socorro... Erraram meu sexo! No ano de 1993, depois de inúmeros problemas, sem muito compreender o porque, me encaminhei para um Núcleo Espírita Kardecista no bairro em que seu morava. Chegando lá, matriculei-me em um curso de educação mediúnica. Perguntava para mim mesma o que me levava a fazer este curso, já que nunca fui muito amante de seguir uma filosofia. No dia 15 de fevereiro de 1993 começariam as minhas aulas e inexplicavelmente, havia um sentimento de ansiedade dentro de mim. Conheci minhas professoras, elas eram em três e diziam para todos que o curso tinha duração de quatro anos. Achei um absurdo um curso de quatro anos para aprender como falar com pessoas mortas, no entanto, eu estava lá, todas as segundas feiras, das 14 às 16 horas e de uma forma curiosa era sagrado a minha ida às aulas, muito entusiasmada pelos segredos do além, eu estava contagiada. Mas um dia o destino levou-me para uma mudança jamais esperada. Eu estava com sérios problemas de saúde e em uma conversa com uma das professoras, ela falou-me que eu poderia fazer um tratamento de Cromoterapia no próprio Núcleo e que eu fosse merecedora do tratamento de cura, teria resultado. Assim, decidi fazer o tratamento, já que sempre fui uma mulher de enfrentar qualquer situação sem temer, ir em frente seja qual for o resultado. No dia marcado para o tratamento, sai de minha casa com grande aperto no coração, sentia-me estranha, como se algo fosse acontecer. Chegando ao Núcleo Espírita, notei algo estranho em uma das professoras que palestravam o curso nas segundas feiras. Ela que realizava o tratamento de Cromoterapia. Quando chegou a minha vez, entrei em uma sala, com pouca luminosidade, sentei-me em uma cadeira rodeada por cinco pessoas, que fechavam com as mãos um círculo e a minha professora Maria falava de cores passando pelos meus órgãos internos. Era engraçado pois, enquanto ela falava, eu tinha a sensação que por dentro de mim tudo esquentava, até que chegou um exato momento que eu parecia estar fora do meu corpo e logo voltei. Levei o maior susto, pois era a primeira vez que pude experimentar tão grande sensação. Se antes eu não acreditava que o destino vem predestinado desde o nascimento, desde aquele momento que saí daquela sala, minha vida mudou em tudo, até mesmo em minha preferência sexual. Nesse mesmo dia à noite, tive um pesadelo terrível, eu andava por caminhos escuros, pedia socorro, implorava para que alguém me acudisse, me tirasse de uma espécie de abismo. Acordei assustada. Durante sete dias este pesadelo se repetia. No sétimo dia de repetição deste pesadelo, era dia de aula, fui para o Núcleo e como de costume, eu era uma das primeiras a chegar. Observei a chegada de uma a uma das professoras até que meus olhos avistaram Maria, uma das professoras, senti uma sensação arrepiante no coração mas, logo me repreendi por tal sentimento vindo de dentro de mim, como eu poderia sentir algo por uma mulher? Estou ficando louca? 4
  • 5. Socorro... Erraram meu sexo! Como foi duro para eu terminar aquele dia de curso, pois o meu olhar procurava se distanciar do olhar de Maria. Na volta para casa comentei o ocorrido com uma amiga do curso e ela simplesmente achou normal. _ Normal? Você me diz que e normal eu sentir atração por uma mulher? Isto é ridículo. _ Se você, Rose encarar a vida no lado espiritual verá que tivemos muitas vidas passadas antes desta, a qual vivemos e talvez, Maria tenha representado um papel íntimo em suas encarnações passadas. _ Você está confusa Cida, isso não existe, isso é coisa que as pessoas inventam para justificar seu lado homossexual. _ Rose, se você duvida tanto, por que está estudando espiritismo? _ Quer saber de uma coisa, Cida? Sou igual a São Tomé, tenho que ver para crer. _ Pois se é assim, como me explica a sua tendência a gostar de sentir essa sensação estranha pela professora Maria? _ Foi apenas um deslize que tive, talvez uma empolgação pelo modo dócil dela falar. Chegamos na casa da Cida, nos despedimos e eu comecei a ficar irada com a idéia, contrária aos meus preceitos. Como eu, Rose, poderia estar ficando louca a ponto de sentir atrações por uma mulher? Ridículo. E o tempo se passou, eu procurava disfarçar essa minha tendência, que a cada dia surgia com mais força, principalmente nos dias de aula. Era uma tortura a manifestação desse desejo que agora existia dentro de mim. Era uma mudança a qual eu não aceitava e tampouco entendia o porquê ou como isso foi acontecer. Até que tudo na vida tem explicação às soluções de minhas perguntas, vieram-me como respostas. 5
  • 6. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 2 O REENCONTRO COM O MEU EU OCULTO Alguns meses se passaram na minha luta de conhecimento desse novo Eu, vivia angustiada, profundamente revoltada e confusa entre meu sexo e meu desejo, pensava em voltar a ser como nasci, uma mulher. A cada música que ouvia, o perfume igual ao dela, fazia-me pensar naquela figura feminina. Obsessão, eu gritava comigo mesma, castigo do céu e nas minhas orações implorava a todos os santos, a Deus, a Cristo, que tirassem do meu peito esse amor ou paixão que existia dentro de mim. E de repente deparei-me com nova tendência, a de escrever. Poesias lindas, pensamentos profundos. Em meus pensamentos a Musa inspiradora era ela, Maria. E todos os escritos passavam pelas mãos de Maria, que me incentivava e achava lindo o que eu escrevia. Sem coragem de me declarar, de me abrir com ela, dizer o que estava acontecendo, passava os dias das aulas como se nada estivesse acontecendo. Nessa fase tão crítica da minha vida, descobri grandes amigos, eles me ajudaram a assumir este novo Eu. Suely cursava o último ano do curso de médiuns, em uma das saídas começamos a conversar, pegamos amizade. Ela ajudou-me a me conformar. Em uma de suas vindas à minha casa, lendo algumas poesias deu-me a idéia: _ Rose, porque você não escreve um livro sobre sua vida? _ Bem, Suely, a minha vida é tão comum, igual à vida de inúmeras pessoas que vivem neste mundo de Deus. _ Acredito que não. Você não me falou que já esteve até em tratamento psiquiátrico em um sanatório? _ É verdade Suely, de tanto querer ficar esbelta fiquei dependente de um remédio inibidor de apetite, o que me levou até a inúmeras tentativas de suicídio. Não sei dizer qual fase é a pior, se aquela ou esta que estou vivendo agora, perdidamente apaixonada por uma mulher. _ Esqueça isso, Rose, tudo já vem escrito, se conforme. Talvez chegou a hora de você encarar as pessoas diferentes aos padrões normais de uma sociedade. Já nascemos para seguir um determinado padrão imposto por ela. Será que estas regras são determinadas por Deus ou, pelas leis do Homem? _ É verdade Suely, apenas é uma forma diferente de amar, um outro irmão com mesma característica física mas, o sentimento, o carinho é o mesmo de um homem para uma mulher. _ Comece a aceitar essa sua tendência, nunca mate esse sentimento lindo que surgiu em seu ser, para que você aprenda a amar a todos, sem preconceito de cor, sexo ou raça. 6
  • 7. Socorro... Erraram meu sexo! _ É verdade Suely, chegou a minha hora, hora de encarar as pessoas diferentes, aceitá-los do jeito que são, meus irmãos, filhos como eu de um único Pai, os quais amam em igualdade. Suely era uma grande amiga, me dava a força que precisava, com palavras de conforto, de carinho e aos poucos ia me conformando e cada vez mais pensava: _ E meus filhos, e meu ex-marido, minha família, como vão aceitar uma coisa dessas? Por enquanto devo restringir aos meus amigos a revelação dessa tendência. Lembro-me que em uma Segunda-feira, por volta das 10 horas da manhã, comecei a escrever sobre a minha vida atual. Nos fundos de minha casa morava uma senhora, que em sua concepção eu era a filha que tinha morrido com 6 meses de idade. A filha de Elisa Kary, em uma viagem para o litoral, passando pela praia, em uma barraca de lanches parou para tomar um refrigerante. Segundo ela, o dono da barraca começou a falar do pai dela, já falecido, como estavam seus avós, os quais também já estavam, falecidos. E Kary perguntou-lhe sobre sua irmãzinha que há 50 anos havia falecido. E o senhor respondeu-lhe que ela já estava em outra vida, pertinho de sua mãe. Por dedução, era convicção de Elisa, que eu era essa filha, que em outra vida a deixara e que agora estava ao seu lado. Se tudo tem lógica, essa história não é tão contraditória pois, a ligação que tínhamos era muito forte. Sr. Alfredo marido de Elisa, quando me separei e meu marido fez questão de reaproveitar a lavanderia e o quarto da dispensa da minha casa e reformulou meus cômodos em quarto e cozinha onde morou até falecer aos 76 anos. Nós éramos muito amigos, mesmo com uma diferença de 40 anos, eu o considerava muito. Tudo ia acontecendo pouco a pouco em minha vida, não sabia mais em quais coisas acreditar ou não acreditar, até aquele dia que eu descobriria toda verdade. _ Sim, existem vidas passadas e com certeza vivemos muitas vidas antes dessa que estamos vivenciando. E nesse dia marcado por Deus, vida atual se transporta para o papel, com muita facilidade, mas em um dado momento como que aconteceu, quando fui na Cromoterapia, me parecia estranho, como se saísse de meu corpo, me vi em outro lugar, alguém me chamava: _ Julius, venha seu pai acaba de falecer. _ Sr. Julius corra, sua mãe lhe chama. Olhei para a escada e a voz vinha do andar de cima, me apressei a subir as escadas, correndo entrei no quarto à esquerda e deparei-me com um homem estendido em uma cama e uma mulher me chamava com voz de tristeza e com muita dor eu abraçava-a, era tão grande amor que eu chorava. Levantei correndo, desci novamente as escadas e dei em um pátio com carro Ford tipo calhambeque. Voltei em seguida ao quarto que estava escrevendo assustada, chamei por Elisa. _ Dona Elisa, a senhora não sabe o que aconteceu. 7
  • 8. Socorro... Erraram meu sexo! _ Rose, quase chamei alguém, eu falava com você e você não me atendia. O que foi isso? Seus olhos não piscavam, você ficou parada, só respirava. _ Não sei, Dona Elisa, o que aconteceu, só sei que está relacionado ao espiritismo, ouvi falar alguma coisa sobre esse assunto no Núcleo. Fique calma, vou perguntar para as professoras hoje. Já era quase 14 horas quando sai de casa pensando: Não sei onde eu estava com a cabeça quando entrei nesse negócio de espiritismo, fiquei totalmente louca, sentindo atração por uma mulher, indo sei lá para onde fui. Se eu continuar assim, com certeza minha família vai me internar em um sanatório novamente. Cheguei ao Núcleo e a primeira pessoa que encontrei foi a Maria. _ Maria – eu gritei já da porta da entrada – preciso falar com você. _ Calma Rose, o que aconteceu? _ Não sei. – chegando perto dela tive o maior susto da minha vida. – Você é aquela mulher. _ Que mulher Rose? _ Aquela mulher de hoje de manhã. _ Calma, sente-se aqui do meu lado e explique. Expliquei a ela todo o ocorrido e ela sorrindo explicou: _ Rose é normal esse tipo de situação, procure ficar calma pois, tudo o que você viu foram acontecimentos de sua vida anterior a esta. _ Porque acontece tudo de uma só vez? Mas, Maria eu era ele, sentia a mesma sensação de dor, da perda de meu pai. Até hoje estou falando como se tudo o que vi fosse verdade. _ Mas foi verdade, somente um passado que você recordou. _ Maria, parecia minha mãe ser você, é possível, realmente verdade ou fruto de minha imaginação. _ Por que não Rose? Não me aprofundei em saber o que fui em vidas anteriores, mas só posso te afirmar que somos iguais a um imã, que nos atraímos pelos mesmos pensamentos, mesmos ideais, mesmas afinidades. _ Se eu contasse a alguém, jamais acreditariam, é absurdo, justo eu Rose, deveria ter que comprovar que tudo que vocês me ensinaram na sala de aula é verdade? _ Talvez, Rose, porque você é do tipo que tem que ver para crer. 8
  • 9. Socorro... Erraram meu sexo! _ É mesmo, tomara que só passa, dessa experiência, essa comprovação, de que somos um todo, com passado, presente e futuro, e o presente, que fazemos no dia de hoje, é o fruto do amanhã. _ Fico contente, que você como professora, seria impossível eu não aprender. _ Rose, você me deixa lisonjeada. _ Eu só falei a verdade. _ Você já acabou seu tratamento? _ Já, acabei a semana passada. _ E como você está se sentindo? _ Muito bem, sei que terei a benção de me curar, pois, há quatro anos atrás, quando o médico achava que o tumor que eu tinha na tireóide era maligno, quase enlouqueci mas, graças a Deus, era apenas um nódulo, sem malignidade. _ Talvez Rose, fosse apenas um alerta para que você acreditasse em uma força superior. E logo, foram chegando as outras professoras, os outros alunos e eu vendo aquela situação engraçada, pois, agora eu tinha um amor imenso por Maria, mas, nada de sentimento de possuir, de sexo, mas um amor que jamais havia sentido, era de muita paz, alegria por estar ao seu lado, por vê-la. Assim me senti aliviada, segundo o que estudávamos era o Amor Universal, afinidade de passagens que se tem em outras vidas anteriores, como papéis de pais e filhos ou até mesmo casal que desencarnaram e quando se encontram novamente em outras vidas, existe um grau de amizade e afeto muito grande. Ficam contentes por se encontrarem e um sorriso vem do inconsciente por perceber que se trata de um reencontro mas, no consciente, essa lembrança só se faz, no momento do conhecimento naquele dado momento. Se eu fiquei contente? Vibrei por esse amor a Maria ser só natural. Como fiquei aliviada e contei à Cida e Suely. _ Estou tão contente que tudo não passou de uma recordação maternal! _ Não acredito Rose, espero que essa história pare por aí. – disse Suely. _ Suely, você é minha amiga ou não? _ Sou, por isso te conhecendo, te ouvindo falar de como encara a vida. Existem em seu coração muitos preconceitos, muitos tabus que devem ser quebrados. Vamos dizer que a reforma interna que tanto falam no Núcleo, seja as barreiras que devemos quebrar em nós mesmos. _ Talvez possa acontecer novamente mas, espero sinceramente que essa experiência pare por aqui. 9
  • 10. Socorro... Erraram meu sexo! E os meses passaram, chegaram as férias de julho e eu iria voltar ao curso, somente no mês seguinte. Minhas tendências se desfizeram, como que por encanto. Comecei a namorar e a minha vida começava a voltar aos padrões normais, segundo eu mesma tinha por convicção. No entanto, minhas relações não eram normais com o sexo oposto, fugia do meu namorado com muitas desculpas quando tínhamos que nos relacionar mais intimamente. Ele não entendia e ficava aborrecido com aquela situação até que decidi romper esse namoro depois de um mês. E como se eu tivesse escrito no além, ela me apareceu. Lembro-me da hora exata que o grande amor do meu ser, retornaria a me fazer em visão. Como eu e a Cida éramos muito amigas, ela me acompanhou em uma visita a uma amiga que estava acamada. Eram seis horas da tarde e Francisca, com plena recuperação de sua enfermidade, nos perguntou sobre o espiritismo, o que vivíamos, estudávamos e outras coisas, até que minha curiosidade me fez perguntar: _ Francisca, nunca eu vi você tão interessada em alguma religião, porque tanta curiosidade? _ Sabe Rose, a minha vizinha pertence ao Núcleo que vocês duas freqüentam ela vive me contando histórias de que tivemos outras vidas além dessa que estamos vivendo e a minha curiosidade é muito grande pois, gostaria de saber o que fui em minha vida anterior. _ Francisca, tive uma experiência já um mês atrás e digo que tudo isso é realmente verdade. _ Conte-me Rose, por favor. Relatei o ocorrido e ela ficou desesperada por saber como fiz a minha regressão. _ Francisca, pelo o que estou sabendo, médicos especialistas já fazem como terapia, esses tipos de regressões. Segundo livros já existentes no mercado, esses médicos encontram traumas em seus pacientes observando os fatos de suas vidas passadas. _ Como? _ Eu acabei de ler um livro desses e muitos relatos e a conclusão foi a de que muitos medos têm como fruto, fatos da vida passada. _ Mas, como? _ Em um dos casos, a pessoa tinha medo de altura e ela tinha que se adaptar e viver em um edifício em New York. Era tanto o medo dela, que não conseguia ficar no edifício. O marido dela procurou um médico para que ela pudesse se tratar. O médico fez a regressão em sua paciente e constatou que, no século passado ela 10
  • 11. Socorro... Erraram meu sexo! vivia em um castelo na Escócia. Foi casada com um escocês excêntrico e esse a prendia na torre do castelo, a submetia a sacrifícios e a prendia em correntes, sem alimento e obrigada a saciar os seus desejos sexuais, de seus próprios empregados, enfim a torturava duramente. Um dia, ele não satisfeito com as torturas, a jogou na fossa do castelo. _ Que história horrível, Rose, não quero mais saber da minha vida anterior. _ Calma, Francisca, nesses casos o médico consegue tirar o trauma de seu paciente. Depois do tratamento, essa mulher até melhorou, seu relacionamento com o marido. _ Então, em casos especiais, essas regressões são aconselháveis? _ Acho que sim Francisca. Se Deus nos dá o esquecimento dessas lembranças de vidas anteriores é que, segundo a minha opinião, não precisamos delas para viver nossa vida atual. _ Rose. _ Sim, Cida. _ Você então, precisará dessas lembranças do ..., como é o nome dele? _ Meu personagem anterior? _ Sim. _ Julius, Cida. _ Alguma coisa me vem como intuição de que você voltará a reviver a experiência da regressão. A noite já estava se fazendo quando tocaram a campainha, foi estranho, pois, meu coração acelerou e Francisca foi até a sala de visitas. Ela entrou, meus olhos fitaram os dela, me arrepiei toda e Francisca, sem perceber o que estava acontecendo nos apresentou. _ Rose, esta é a minha vizinha que freqüenta o Núcleo. Silvia esta é Rose. Nos cumprimentamos, com um aperto de mãos e eu ao tocá-la senti meu corpo fervendo. Ela foi cumprimentar a Cida e depois começamos a conversar mas, eu não me sentia muito bem e pensava: - “Meu Deus, outra vez, não!” Silvia por sua vez parecia indiferente aquela situação, desejando cada vez mais conversar. Meus olhos se perdiam naquela imagem, foi uma tortura, aquela mulher me deixou com um desejo de abraça-la, beija-la e talvez ter uma intimidade, mas, eu devia disfarçar pois, Silvia era mulher casada, senhora de 45 anos, mãe de três filhos. Apressei em ir embora e Cida se queixou. _ Rose, a conversa está tão boa, por que essa pressa? _ Cida, deixei meus filhos sozinhos e tenho que preparar a janta. 11
  • 12. Socorro... Erraram meu sexo! _ Rose, seus filhos já estão bem grandinhos e além de tudo eu te conheço, você não tem esse hábito de servi-los. Silvia com muita intuição, percebeu o meu desespero em não ficar ao seu lado. Eu a adorava, mas, ao mesmo tempo ela me incomodava. E com um sorriso nos lábios, Silvia pegou em minha mãos e disse: _ Calma Rose, o reencontro acontece. Deus nosso pai nos faz separar por muito tempo, dois ou mais seres que se amam, que tem afinidade. _ Desculpe-me Silvia, mas é nova essa sensação para mim. Aliás a minha vida se tornou cheia de surpresas, mas infelizmente tenho que ir, cuide bem de nossa amiga Francisca. _ Claro Rose, se puder me telefone. Vou anotar o número. _ Silvia, anote o meu telefone, assim você me telefona, afinal eu não sei qual hora do dia seria mais conveniente estar falando com você, já que tem família e marido, e sei como eles não gostam de ser incomodados. _ Está bem Rose. Despedimo-nos e eu e a Cida fomos caminhando até a minha casa, como era de costume, aos sábados fazíamos um lanche rápido e começamos a conversar. _ É Rose, a vida tem que te ensinar na própria vivência. _ Infelizmente vejo também neste prisma, pois, as coisas acontecem de instante em instante e uma mulher abalou-me novamente. _ Vou te apresentar uma amiga que foi minha professora de magistério, ela é assumida e vai te explicar muitas coisas. 12
  • 13. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 3 O COMEÇO DE UM APRENDIZADO Um mês se passou depois de meu encontro com Silvia. Ela me telefonava, conversamos muito sobre o espiritismo e aquela empolgação do primeiro encontro já havia passado. Voltei ao normal, assim era o meu pensamento, mas, um dia resolvi abrir um pequeno negócio de cosméticos, o problema de simpatia pelo mesmo sexo haveria de continuar. Arrumei uma sócia e começamos a tocar a loja em um bairro de São Paulo. Bem relacionada, Marta começou a fazer parte de minha vida, do meu lar. Seus amigos e amigas passaram a ser meus amigos e amigas, até que outra mulher haveria de balançar meus sentimentos novamente, aliás, tornou-se uma rotina os impulsos ao sexo feminino, muito elegante, graciosa, cheia de charme, Samanta foi apresentada a mim. Pobre e velho coração, como disparou ao vê-la, tanta beleza plasmada em um corpo tão pequeno de uma mulher. Procurei disfarçar meus impulsos e cumprimenta-la normalmente. Pelo seu serviço, ela devia se manter elegante em suas vestes e assim ela se mostrava mais atraente aos meus olhos. Sua fala rouca, seu jeito dócil de pronunciar as palavras, encantava-me. Samanta era toda feminina, passava-me ela os encantos e a beleza de uma mulher. Sentia-me ao vê-la um homem, que estava atraído pelo sexo oposto mas, eu não aceitava esses impulsos. Fiquei até pensando que alguém tinha feito uma macumba para mim, e por dentro eu gritava desesperadamente: _ Não, não, não, não sou assim. É impossível, alguém fez trabalho para mim. E coragem eu não tinha de contar a alguém de minha família o que estava acontecendo, que de repente adorava mulheres. Talvez se eu fosse a um médico ele me incentivaria a acreditar que a decepção do casamento me trouxe a preferência pelo mesmo sexo, talvez como opção mais adequada ao não sofrimento afetivo mas, não era assim, pois, enquanto eu estava casada com o Paulo fui muito feliz e a insatisfação partiu da minha parte. Como? Porque? O que aconteceu comigo? _ Essa mudança é do agrado de Deus? Meu Deus, porque eu tenho que passar por essa humilhação? _ Meu coração parecia estar vazio, sem amor, sem nenhuma empolgação por ninguém. Talvez essas mulheres fossem como Maria, alguém mais íntimo em minhas vidas passadas. _ Continuei a levar a vida com meu curso Kardecista, lendo inúmeros livros espíritas, enfim, querendo solucionar o meu problema. _ Através da insistência de Cida, o encontro com sua amiga aconteceu, era uma quinta-feira, já noite, as duas vieram até minha casa. Depois das apresentações, eu e Cíntia conversamos muito, sobre o homossexualismo. 13
  • 14. Socorro... Erraram meu sexo! _ Talvez Rose, você tenha que conviver com seres desse tipo, gente igual a todo mundo, que só tem de diferente sua preferência sexual. Que mal há nisso? _ Não sei Cíntia, acho muito estranho. _ Não é não Rose, só o tempo te mostrará a verdade que um dia a humanidade compreenderá. _ Somos seres universais, livres, donos de nossas próprias ações, com apenas a limitação de não prejudicar nessas ações, o nosso próximo, desde racional ou irracional e, aliás, como você vem estudando o espiritismo não tem sexo, só tomamos forma de homem ou mulher quando encarnamos neste planeta para aliviar nossos Karmas. _ Você que estudou a Filosofia Rosa – Cruz, o que eles dizem sobre esses Karmas? _ São dívidas que deixamos de cumprir em uma vida e resgatamos em outra vida. Exemplificando-te, talvez você como Julius, abusou do sexo, maltratou mulheres, assim você reencarnou como Rose, para na pele de uma mulher sentir as mesmas dores que faz alguém sofrer. _ Então, se tenho que cumprir essa dívida em um corpo de mulher, porque troquei os meus gostos sexuais? _ Rose, dentro de você há o seu eu real, seu espírito não mudou suas tendências devido a sua forma de mulher. Talvez você tenha sido Roberto, Manuel, Elias, Julius sempre do sexo masculino e de repente se vê como Rose e não se conforma de ser uma mulher. Assim suas tendências brotaram novamente, ser o que você sempre representou, um homem. _ Deus me livre, sou uma mulher, não sou um homem. _ Calma amiga, te ajudarei nessa sua resistência de se aceitar no seu verdadeiro eu. – disse Cíntia sorrindo. E o tempo passava, eu e Cíntia pegamos uma amizade profunda, falávamos em nossas conversas sobre o universo e com doses pequenas ela me fazia aceitar a idéia de minha mudança. Se alguém pudesse ver o meu antes e o depois, poderia chegar a conclusão de como fui uma mulher pois, sem que eu fizesse nenhum tipo de transformação era visível, meu modo de andar, sentar, agir, era todo para o lado masculino. Meus gostos em me vestir e o pior de tudo, se passasse uma mulher, meus olhos perseguiam aquela imagem deliciando-me. Que explicação poderia ter, se não fosse espiritual? Como era de costume eu e Cíntia assistíamos a muitos filmes bíblicos sobre assuntos de encarnação e reencarnação. Um dia assistindo um desses filmes tive a visão de meu passado estar na tela. Assistimos ao filme e Cíntia voltou para sua casa. Não conformada fui assistir o filme novamente e da tela viajei para o meu 14
  • 15. Socorro... Erraram meu sexo! inconsciente, aproximadamente 1930, agora podia me ver, definir-me, como era a minha aparência daquela época. Um jovem de 17 anos, alto, esbelto, olhos castanhos, parecia estar em um bar, mas, reconheci uma confeitaria. Quando me deparei com aquela visão, procurei sair daquele transe rapidamente, peguei um papel e uma caneta e descrevi aquele pequeno instante vivido. Se puder, assim definir o que estava acontecendo em minha própria experiência como se eu deixasse o meu corpo de Rose e entrando no corpo de Julius em um tempo e espaço que não era o mesmo que eu vivia e automaticamente escrevi o que sentia. Nessa confeitaria Julius se embriagava com wisky, escrevendo também podia sentir minha embriagues, mas, continuando em detalhes o meu relato como na realidade me aconteceu, a minha verdade, que jamais poderia inventar, uma história que a cada instante eu vivi, senti as dores, o sofrimento desse meu personagem anterior da minha vida passada. Ficou claro para mim a certeza de que tudo isso aconteceu no meu passado e fazendo-me hoje eu ter reencontrado o meu “Eu oculto”, as respostas dos meus porquês. Obrigado a Deus, eu sempre agradecerei pois, apesar de muitos me chamarem de louca, estou de bem comigo mesma, pois, a verdade me foi relatada em detalhes. Agora a partir dessas linhas a seguir, estarei escrevendo, a quem interessar, que nada acontece por acaso, tudo tem uma razão de ser. _ Julius, pare de beber, ela não é merecedora desse tão grande amor. _ Leonardo, essa mulher para mim é a luz das estrelas, o Sol que irradia o dia, a rosa a desabrochar em um jardim. Sem ela, amigo, minha vida será sempre sem razão de ser. _ Julius deixe de bobagens. Jenifer te ama, tem a sua idade. Miriam é velha, feia, baixinha e agora, você pode notar, está acompanhada de seu marido. _ Sei disso Léo mas, como deixar de olha-la, de recordar que alguns dias atrás ela se deliciava de prazer em meus braços, naquele quarto de hotel. _ Julius, tome essa fase de sua vida como uma aventura de um jovem de 17 anos com uma mulher de mais de 30. _ Trinta e oito anos Léo, ela ainda continua com a formosura daquela foto que ela tirou em Dover, sua cidade natural, quando tinha 17 anos. _ Desculpe-me amigo, só vejo esta beleza que me falas, em seus olhos apaixonados. _ Pare com isso Léo, quatro anos de convivência não são quatro meses, nesse tempo, ela me encantou, me enfeitiçou. Você sabe como a conheci? _ Sei Julius, mas conte-me novamente. _ Lembro-me Léo, era uma quarta-feira, garoa fina caia do céu aqui de São Paulo, papai e o Sr. Jorge conversavam na biblioteca, mamãe e Miriam conversavam na sala de estar. Eu tinha 13 anos, já ia completar 14. Dia 12 de 15
  • 16. Socorro... Erraram meu sexo! janeiro, às 14 horas, pois, terminava minha aula de alemão. Descíamos as escadas, eu e Dona Franolawin, que só dorme em aula. _ Dorme em aula Julius? _ Para você ver Léo, toda vez que começo a ler os textos ela dorme. _ Você já falou a sua mãe? _ Adianta Léo? Ela acha que é implicância minha. Sempre após a leitura tenho que acorda-la. Léo sorri em tom de deboche e fala: _ Julius, você é demais, continue sua história. _ Bem, Léo, descemos a escada e quando meus olhos, já no meio da escada a fitou, me apaixonei. Desci mais rápido deixando a Sra. Franolawin para trás e adiantei-me na apresentação. _ Boa tarde, senhoras! _ Julius, essa senhora é a Dona Miriam, esposa do Sr. Jorge, que vendeu as máquinas de beneficiamento ao seu pai. _ Muito prazer, senhora Miriam. _ Muito prazer Julius. _ Ah! Léo, quando ela apertou minha mão arrepiei-me todo. Depois dos cumprimentos pedi a mamãe que deixasse fazer parte de suas conversas. _ Ela deixou, mas antes consultou Miriam e ela falou: _ Claro Sra. Condessa, é muito prazeroso conversar com os jovens. Eles são muitos idealistas e aliás, como a senhora sabe, tenho quatro filhos e se não me engano com a idade de Julius. Quantos anos tem? _ Quatorze, senhora. _ Julius, Julius, você só tem treze. _ Mamãe a senhora tem consciência que dia 26 de fevereiro já completo 14 anos. _ Mas, Julius, ainda não completou. _ Deixe-o senhora condessa, quando Julius completar os 30 anos não adiantará sua idade. _ Léo, amigo, conversei com ela sobre Dover, sobre seus filhos, como eles se adaptaram aqui no Brasil? _ Eles estudaram numa escola inglesa, não é Julius? _ Exatamente Léo, até que em um dado momento ela fez o convite. 16
  • 17. Socorro... Erraram meu sexo! _ Que convite Julius? _ Não se lembra Léo? Que você me acompanhara todas as férias escolares para a fazenda de meus pais? _ Claro Julius, até essa mulher aparecer em sua vida e você ir todas as férias para o litoral. _ Foi nesse dia que ela me convidou, contra mamãe, que desde o acidente que tive na árvore não mais se desgrudou de mim. _ Que acidente Julius? _ Um acidente que tive aos cinco anos, quando subi em uma árvore caí e fiquei em coma. Assim, papai foi quem deu consentimento para minha viagem e mamãe teve que aceitar, é claro. E tudo começou, lembro-me como se fosse ontem. No dia 13 de junho, uma segunda-feira, mamãe me ajudou a arrumar as malas. Hélio, nosso motorista, levou-me até a casa da praia, Miriam, me esperava desde a entrada do portão do jardim. Desci do carro e andamos juntos até a casa. _ O que vocês conversavam? _ Muitas coisas Léo, você sabe que Robert tem uma deficiência, é horrível Léo, quando ele tem crises, berra como um animal. Miriam muito liberal me fez uma pergunta logo no primeiro dia. _ O que ela perguntou? _ Se eu já havia praticado o ato sexual. _ Não brinca? Ela estava mesmo mal intencionada. _ Então Léo, essa viagem que eu fiz no ano de 1926, a casa de praia era somente para fazer companhia ao filho dela. _ Como você ficou a respeito de Robert quando o viu? _ Foi no jantar do mesmo dia que cheguei. Quando estava descendo do meu quarto para sala de refeições, Miriam me chamou. _ Julius, venha até aqui. _ Caminhei ao encontro dela e lá estava ele na cadeira de rodas. _ Julius, este é Robert – disse Miriam. _ Senhora Miriam! – Eu o examinei – Esse é o menino que a senhora me trouxe para fazer companhia? _ Julius, calma, ele é assim por minha culpa. _ Sua culpa? _ Sim Julius, tomei uns comprimidos para abortá-lo, ele resistiu mas, nasceu com problemas de retardamento e atrofias gerais. 17
  • 18. Socorro... Erraram meu sexo! _ Assim Léo, eu e Miriam saíamos com Robert todas as manhãs até que um dia aconteceu. Estávamos a beira-mar e ela afagou meus cabelos e me deu um beijo. Um romance que durou quatro anos. _ Sei Julius, que está sendo duro sua separação graças ao seu tio. Mas o Sr. Francesco tem razão, como ficaria se algum jornal descobrisse seu romance? Pense Julius... “O jovem Julius Adolfo Rufino, filho do falecido comendador Rufino, foi visto nos arredores da Estação da Luz com a Sra. Miriam, esposa do Sr. Jorge, representante de uma firma inglesa, cujo propósito é o de exportação de máquinas. Os dois mantinham um romance secreto há quatro anos”. _ Que escândalo seria Leonardo. Olhe para ela ao lado dele. Não irei resistir, estou muito embriagado, vou falar com ela. _ Não Julius, pense na sua namoradinha da escola. _ Ela acabou com a minha vida. _ Não Julius, não acabou, você é jovem, tem uma vida pela frente. Julius, o Sr. Jorge vem vindo em nossa direção e ela se aproxima também. _ Rapaz, o que você tanto olha para minha esposa? _ Calma Jorge, ele é Julius Rufino, filho do falecido Rufino. _ Rapaz, você já bebeu demais. _ O que o senhor tem a ver com isso? _ Calma Julius. Jorge, deixe-me falar com ele. _ Julius, venha sentar-se nesta mesa. _ Miriam! _ Espere, deixe-me falar. Como poderíamos sustentar esse romance? Você vai sair desse transe de uma louca paixão e notar que estava preso em uma mulher mais velha, que tem a idade para ser sua mãe. _ Porque Miriam? Não pensou desse modo quando me envolveu numa louca paixão? _ Julius, errei, mas eu estava carente, Jorge sempre me condenou por Robert. Eu te juro Julius, não te via como um menino e sim como um homem que me completava. _ Miriam, sei que agora me chama de menino, mas, antes a nossa diferença de idade não te fazia nenhuma questão. _ Como Julius, que forças terei perante a sociedade que tem valores, preconceitos em uma grande diferença de idades. _ Matarei-me Miriam, pois, não agüentarei ficar sem teus beijos, suas carícias. 18
  • 19. Socorro... Erraram meu sexo! _ Não faça isso, por favor, me encontrarei às escondidas com você. _ Não preciso de sua piedade, ou tenho você como esposa ou não a terei jamais, pois, estou cansado de migalhas de tempo com você. _ Julius, por favor você está se sentindo mal? _ Jorge, socorro, o Julius, venha depressa. _ Miriam, ele está em coma. Mande avisar a condessa. _ Léo, chame o motorista da família de Julius, que eu sei o que o espera do lado de fora. _ Sim, senhora Miriam. _ Julius, está muito mal, temos que leva-lo ao hospital. Neste instante, depois de escrever esta última frase, senti que não estava mais envolvida no corpo daquele rapaz. Veio uma escuridão total, senti como se voasse por um túnel e no fundo enxergava uma luz. Eu descia lentamente, como se estivesse no ar, devagarzinho até que senti o chão. Procurei olhar ao redor, haviam árvores gigantescas, eu corria por aqueles caminhos, ao fundo havia uma casa de cor branca. _ Julius, alguém me chamava fixando – eu era um menino de 5 anos. – Seu menino travesso, onde você estava? Estou te procurando já faz meia hora. _ Gina, você me achou? Eu estava me escondendo. _ Vamos tomar banho para esperar o papai e a mamãe chegar. _ Para que esperar a mamãe, ela não gosta de mim! _ Não fale assim Julius, ela é muito ocupada. _ Gina, o Nandinho meu primo, que tem a minha idade, já senta na sala de jantar com o tio Victor e a tia Eloísa e a mamãe não me deixa ir. Caminhamos até a casa branca, passamos por uma porta de vidro e outra senhora nos esperava. _ Gina, venha ver o que esse moleque fez? _ O que Julius aprontou dessa vez? _ Ele derrubou todo perfume e o pó de arroz da senhora condessa. _ Julius, você fez isso? _ Fiz Gina. Ela me bateu ontem. Quando você saiu, eu queria uma historinha para dormir e ela falou que estava cansada. Você vai falar para ela? _ Se Gina não contar, eu conto. _ Sua bruxa, você Éster é muito feia, tem uma vassoura e voa. 19
  • 20. Socorro... Erraram meu sexo! _ Está bem Julius, sou uma bruxa e vou contar tudo para sua mãe, e vai ser agora, olhe no pátio, Hélio já está encostando o carro de sua mãe. Sai correndo pelos mesmos caminhos do jardim. Forcei a subida em uma árvore e lá de cima via todos me procurando. Perdi o equilíbrio e escorreguei de um galho batendo a cabeça no chão. Senti uma agonia, dor. Meu corpo todo doía, faltava-me o ar, sentia sede gritava: _ Mãe, socorra-me, está doendo, estou morrendo. Mãe não me deixa morrer, estou com medo do escuro. De branco, apareceu uma senhora: _ Quem é você? _ Sou sua mãe do céu. _ Eu morri? _ Não filho, você está dormindo. _ Dê-me sua mãozinha, vamos viajar? _ Mamãe, aonde vamos? _ Para um lugar aonde tem crianças iguais a você. _ Onde está o carro? _ Não vamos de carro, vamos voar. _ Voar mamãe? Eu virei um pássaro? _ Julius, você não é um pássaro, apenas no seu sonho, você pode voar. _ Que maravilha! Então vamos! _ Filho, não olhe para baixo. _ Mamãe, eu estou lá embaixo, cheio de sangue. Eu morri mamãe. Olhe mamãe de verdade está me chamando. _ Calma Julius, se eu te explicasse, nunca entenderia. _ Não chores filhinho, logo voltarás. _ Eu quero minha mãe de verdade, não quero ir com você. _ Lá aonde vou levá-lo, descansarás um pouco, brincarás e logo voltarás para sua casa. _ Lá tem doce mamãe? _ O que desejar filho. _ Você vai deixar eu comer o que quiser? _ Claro Julius. 20
  • 21. Socorro... Erraram meu sexo! Era emocionante o que eu sentia naquele pequeno corpo infantil, a leveza do vôo, as sensações de medo quanto mais alto subíamos. Do alto a terra de cor azul anil. De mim saía um cordão prateado, precisamente do meu umbigo, que fazia voltas, como uma espiral. Bolas e luzes passavam entre nós, paravam e estranhamente eu percebia que elas nos cumprimentava. Fisionomias estranhas, mas sentia segurança com aquela senhora. Até que chegamos, descemos verticalmente e muitos seres estranhos me cumprimentavam. _ Quem são mamãe? _ Esta é a sua família de verdade. _ Então mamãe Rebeca e o papai Adolfo Rufino, não são meus pais de verdade? _ Julius. _ Quem é você? _ Sou sua outra metade, o ser que te acompanha na eternidade. _ Vós estas tão bonitinho na forma infantil. _ Quero abraça-lo e dizer-lhe que essa separação entre os dois planos faz-me bater a saudade. Quando eu ia me aproximar desse ser, não sei porque, a sensação que tinha era de muito amor, o cordão prateado me puxava para baixo, eu descia, descia, eu gritava Wei.2 meu amor, não deixe de me levar de volta. Anjo dos anjos, quero permanecer ao seu lado. Nesta descida eu escutava alguém rezando. Abri os olhos em um despertar de um sono profundo. _ Mamãe, onde estou? Miriam? _ Julius, você estava em coma. Graças a Deus você voltou. _ Mamãe sonhei que eu era uma criança, onde está Wei.2? _ Quem é Wei.2? _ É uma mulher mamãe. De olhos claros, cabelos amarelados. Vestia-se com um macacão prateado. Linda, ela é linda mamãe. Parece um anjo. Sei que ela é a mulher que eu amo. Desculpe-me Miriam. _ Que tens para desculpar Julius? _ Filho, irei chamar o doutor Alberto, dizer-lhe que já saiu do coma. _ Julius, agora que estamos a sós, você já está bem, irei afastar-me de você. _ Não, Miriam, te prometo que sem você, não tem razão de ser, vou me matar. 21
  • 22. Socorro... Erraram meu sexo! _ Julius! Neste momento entrou um homem no quarto: _ Senhora Miriam! Não lhe avisei que se a visse novamente com meu sobrinho contaria do seu romance secreto ao seu marido? _ Sr. Francesco, apenas socorri Julius em sua embriagues. _ Então o senhor é o culpado tio? Eu te odeio! _ Julius, tente compreender. _ Não tio, não viverei sem Miriam vou me matar, já que sobrevivi a este coma, na próxima vez terei sucesso em meu suicídio. _ Por favor Julius! _ Senhora Miriam, tire as mãos de meu sobrinho. Vá embora antes que a mãe de meu sobrinho chegue. _ Não Miriam, fique, eu te amo. _ Seu carcamana, eu te odeio! _ Julius, compreenda, fará 18 anos em um mês. Irá herdar a herança de seu pai. Terá que tomar a frente de seus negócios. _ Eu não quero dinheiro tio, quero a mulher que eu amo. 22
  • 23. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 4 A BUSCA DE UMA VIDA Parei de escrever, voltei dessa viagem de dentro de meu eu. Parecia-me uma tela mental, uma história que estava dentro de meu cérebro. Cíntia freqüentava a minha casa constantemente, contei-lhe a história. _ Cíntia, como posso entrar e sair da minha vida passada com tanta facilidade? Duas vezes acionei minha tela mental, como, não sei, mas consegui. _ Pergunte ao Núcleo onde você freqüenta, o que está acontecendo com você. Parece-me que por algum motivo você aciona sua tela mental e volta a viver o seu passado de uma vida anterior. _ Para você ver, Cíntia, eu não quero saber, reviver minha vida anterior acontece-me espontaneamente. _ Não se atormente, Rose, há um ditado que diz: “Não há uma folha que cai, se Deus não quiser”. E minha vida continuava do Núcleo à minha casa, procurava eu disfarçar o lado que em cada dia ia se aflorando. Para mim era impossível disfarçar minhas tendências. Todos os meus hábitos mudaram. Meu modo de andar, de sentar. Todas as minhas amigas notaram nas minha mudanças eram evidentes mas, espontâneas, não forçava nada. Cíntia ajudava-me a compreender, a entender as razões das razões, dessa mudança. Será meu Deus, me perguntava, sempre fui isso e não sabia, porque eu? Há 13 anos sozinha, sem nenhuma inclinação a uma vida amorosa, solidão já tinha superado. Meus filhos, minha alegria, cresceram. Os amigos deles superavam a minha presença. Não fazia, assim tão necessária na vida deles. Começou nessa fase deles na adolescência de 17 a 20 anos. Eu pensava, porque não ser feliz novamente, não ter alguém que me complete. Mas será que eu conseguiria tocar uma mulher? Credo? Seria ridículo, beijar alguém igual a mim fisicamente. Até que um dia o destino me colocou à frente desses pensamentos para quebrar esse preconceito. Cíntia e eu fomos a um supermercado, era incrível a minha nova personalidade, de tímida e recatada fiquei uma ótima paqueradora. Minhas conversas, minhas conquistas, tinha, como se fala na gíria, um ótimo jogo de cintura. Aonde eu pensava estava esse meu eu? Até dei um cartão pessoal a uma moça que trabalhava no supermercado de segurança e por incrível que pareça, ela aceitou o convite, de vir à minha casa no sábado. Rezei muito a Deus para ela não comparecer ao encontro mas, minhas preces não foram atendidas, pareceu. Minha casa, como sempre estava com amigas jantamos e nos dirigimos à sala de visitas. Cíntia então me preparou a grande aventura da minha vida, o começo de retornar a 23
  • 24. Socorro... Erraram meu sexo! minha real personalidade. Pediu a Karyn que fosse conversar comigo, no meu quarto e tudo aconteceu. O tabu de que uma sociedade tinha me imposto desde o meu nascimento de: _ O homem e a mulher deveriam se casar e procriar, nesse dia haveria de se acabar em meu ser. Porque haveria de ser assim, se eu me identifiquei tanto com uma mulher. No ato em si, um outro eu parecia explodir no meu ser, um homem! Mas, minha dúvidas haveriam de continuar será que não estou influenciada por algum espírito obsessor? Será que não fizeram algum trabalho para eu virar um homem? No meu preconceito só tirei a conclusão de que gostei mais do ato sexual com uma mulher do que com um homem. Olhando-me no espelho falei: _ Rose, você nunca irá assumir uma mulher, ou declarar-se perante uma sociedade, que você é isso, um homossexual. E apesar de ter gostado muito de Karyn, não desejei continuar este relacionamento, assim tudo passaria apenas por uma noite. Cíntia achou ridículo eu ter jogado fora um começo de felicidade mas, como ela sempre dizia: _ É duro essa aceitação, precisa ter coragem para enfrentar a si mesma em primeiro lugar. Depois passar aos outros, a uma sociedade, que somos diferentes aos padrões de normalidade exigidos pela mesma. Mas haverá o dia de sua aceitação. Minha vida continuou, o primeiro ano de meus estudos no Kardecismo acabaram mas, minha querida professora Maria sempre estaria no meu coração, não como um amor de carne e sim como um amor de espírito. Uma grande amiga, não de convivência no dia a dia e sim, alguém que nas horas mais críticas, me passava uma palavra de otimismo. Da leitura fiz a minha aliada, parecia que eu queria descobrir todos os segredos. Muitos livros espíritas passaram aos meus olhos mas, nenhum poderia me dar a resposta que eu procurava. Pensei no Núcleo onde diziam que é preciso fazer a reforma íntima, se conhecer profundamente e corrigir os erros. Assim pensei: _ Tenho que deixar o medo de lado e procurar dentro de mim mesma a verdade ou respostas para as minhas perguntas. Parece fácil mas, não é, consiste em uma guerra de personalidades entre o consciente e o inconsciente. Deveria eu brigar com duas personalidades, do que eu apresentava ser como Rosangela e a minha personalidade como um espírito errante de séculos, de várias outras encarnações. Tinha essa certeza pois, tinha passado a experiência de uma regressão. Pesquisei muito e comprovei, que todo ser traz consigo seqüelas de outras encarnações. Era fácil para mim, saber se tudo que escrevi era verdade, Julius viveu em São Paulo a mesma cidade na qual vivo, em 1930 24
  • 25. Socorro... Erraram meu sexo! aproximadamente mas, quando ele faleceu, preciso saber o nome dele completo. Perguntei para várias pessoas do kardecismo qual o risco de uma profundidade em uma vida anterior e com palavras diferentes mas, com a conclusão: _ Se Deus nos dá o esquecimento de quem fomos em nossas vidas passadas e que não temos a capacidade de resistir à verdade. Alguns chegavam ao extremo: _ Já pensaste Rose, se descobríssemos que um de nossos filhos nos matou, ou nos destruiu em outras vidas. E agora nos foi dada à missão de amá-lo como fruto de nossa carne e ele, por sua vez, se redimir de sua falha como filho carinhoso, dócil, que vem auxiliar, zelar em nossa velhice? Mas tudo o que falavam para mim era em vão pois, eu pensava: _ Se Deus permitiu saber o que fui no passado de um modo espontâneo, ele aguarda que eu cumpra alguma missão, talvez de futuros livros, que através da escrita, de minha experiência, eu consiga confortar alguns corações aflitos, com a ansiedade da verdade. Cida, minha companheira em minhas pesquisas pensava: _ Se Julius viveu em 1930, a morte de seu pai, o comendador Rufino, está publicada nos jornais da época, e nas bibliotecas, com certeza, irei encontrar alguma coisa. Fui até a biblioteca e através de microfilmes de jornais da época começou a minha luta em saber se tudo era verdade. Tentativas inúteis pois, não tinham dias consecutivos, e as datas previstas, do ano em que eu achava ter sido a morte do comendador, os jornais não existiam. Mas, em mim, acontecia algo estranho pois, por mais que eu penetrava na verdade, se era verdade se realmente tudo havia acontecido, eu era puxada a um funil do tempo. Fotografias, prédios antigos, faziam-me voltar ao tempo de Julius. Uma vizinha pediu-me para levar uma prima até Santo Amaro. Como não tinha nenhum compromisso, resolvi fazer-lhe este favor. O ônibus saia da Estação da Luz, chegando lá um impulso maior levou-me a entrar na estação deixando Paula para trás e o funil do tempo me fez presente, tão claro em cenas de um tempo que não era o mesmo em que eu vivia. De repente vi as pessoas se transformarem com roupas de 1930, os bancos de madeira eram poltronas confortáveis e aquela estação era, aos meus olhos, muito luxuosa. Tudo me passava como uma realidade de que aquele tempo estava realmente acontecendo, era um transe que durou até Paula me chamar: _ Rose, o que aconteceu? Está passando mal? _ Você está vendo Paula? _ Vendo o que Rose? 25
  • 26. Socorro... Erraram meu sexo! _ As roupas das pessoas. _ O que tem elas? São normais. _ Não Paula, elas se vestem como 1930. _ Pelo amor de Deus Rose você é louca. Minha prima me mandou com alguém que não regula muito bem? Nesse instante sai do transe, olhei para Paula e sorri: _ Paula, eu só estava brincando. _ Brincando ou não, me leve de volta para a casa de minha prima. _ Não será necessário Paula, lhe levarei até Santo Amaro. _ Não sei não Rose, se eu quero ir com você. Acho que você não sabe muito bem das coisas. Foi duro, mas consegui convencer Paula que não era louca e que sabia ir ao local destinado. Depois da viagem de volta, vinha pensando: _ Meu Deus, se esses transes acontecerem com freqüência, o que farei? A maioria das pessoas, como vão encarar? Vão pensar que sou uma louca com certeza. Meu Deus, o que fiz na minha vida? E agora como voltar a ser como eu era antes? Bem que me avisaram no Núcleo que é perigoso vasculhar o passado mas, eu não fiz nada premeditado. Há amigos, irmãos espirituais, sem eles não somos nada. Cíntia minha amiga, que te recordo, como foi importante nessa fase de minha vida. Sempre me explicando as razões de que tudo ia me desenrolando, a minha busca de omitir eu oculto, explicou-me o que aconteceu: _ Rose, os lugares que você esteve, as pessoas que conviveu, vão reviver em sua mente, o portal do tempo. E as realidades vão te confundir pois, são verdadeiras mas, somente aconteceram em épocas diferentes. São riscos que terá que correr para quem sabe, descobrir sua verdade. _ Não me amedrontarei, diante do que irá me acontecer pois, está dentro de mim, a busca da verdade e não me importa o que vão pensar de mim se sou louca. O que me valerá é a paz de um dia estar bem comigo mesma. Quero te pedir uma coisa Cíntia. _ O que é Rose? _ Fique sempre ao meu lado pois, sei que irei cair no poço mais profundo da incompreensão mas, só irei fechar este portal do tempo quando eu descobrir que tudo é verdade e tem razão de ser. Irei à busca de mim mesma, me procurar até me encontrar. 26
  • 27. Socorro... Erraram meu sexo! _ Conte comigo amiga! Vou segurar sua mão e te levantarei todas as vezes que cair. _ Obrigada Cíntia por ser minha amiga, afinal: “Amigo é palavra linda se soubermos cultivá-la em essência”. 27
  • 28. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 5 DE VOLTA AO PASSADO Como eu havia decidido ir até o final com tudo isso, deveria voltar ao passado e terminar toda história. Amigos do Núcleo avisaram que era perigoso e que eu poderia ficar presa no tempo e não voltar mais. Mas, sou aventureira e curiosa, quanto mais lia, mais eu me conformaria com tudo o que eu escutei e li sobre o espiritismo. Essa busca custou-me uma decadência em minha vida financeira, meu negócio, minha loja, foi à falência. Marta começou a fazer de minha vida um inferno. Surgiram fofocas que realmente não tinham razão de ser. Era engraçado o estado de transe no qual eu me encontrava pois, tudo o que acontecia eu não me dava conta e as pessoas se aproveitavam de minha fraqueza de estar ao mesmo tempo em duas vidas. Só quem passa por essa experiência pode confirmar o que estou descrevendo. Às vezes, ao me levantar pela manhã tinha a impressão de que o meu quarto não era o mesmo tirava a blusa do pijama e saía do quarto, talvez como Julius fazia. Via crianças jogar bolinha de gude, bola e queria participar. Por alguns segundos eu revivia meu passado e me sentia aos 17 anos, era incrível pois, me sentia um adolescente. Quanto aos meus filhos, algumas vezes me olhavam e achavam estranho e antes de prosseguir nesta viagem conversei com os dois, expliquei tudo, os riscos, as prováveis atitudes que eu iria tomar. Ambos compreenderam que tudo o que iria acontecer seria para o meu bem e além de tudo, criei os dois não como filhos, sempre fui à irmã mais velha deles. Liberal com os dois mas, ao mesmo tempo dava-lhes alguns puxões de orelhas quando necessário, mas nada sério. Só pedia a Deus forças para resistir a essa experiência e um dia publicar em um livro tudo o que aconteceu comigo. Não queria me promover mas, para mostrar aos leitores que qualquer um de nós, seres do planeta Terra, podemos reviver nosso passado, saber o que fomos mas, correndo o risco de nossas vidas atuais entrarem em crise total. Foi duro me reerguer financeiramente mas, naquela época consegui fazer acordo com os meus credores e sair do caos. Cíntia, minha grande amiga, ajudou-me a sair das fofocas. Parecia-me que forças negativas inspiravam as pessoas para atormentarem a minha vida. Mas, se o bem vence o mal, no mesmo tempo anjos do bem, iluminaram minha mente e as soluções vinham em formas diversas, para sair dessa crise na qual eu me encontrava. Minha mente foi motivada a voltar ao passado quando eu assistia a um filme, havia um casa branca, logo que senti a recordação peguei caneta e papel para registrar com detalhes a minha visão: 28
  • 29. Socorro... Erraram meu sexo! _ Dona Mimi, como não me contaminei daqui, de sua casa? _ Impossível Julius, as moças passam regularmente por exames médicos e nenhuma das meninas, segundo o Dr. Francis, tem qualquer problema de saúde, elas estão ótimas. Você é muito volúvel, desde que o seu pai o trouxe, aos 14 anos, para sua primeira experiência sexual eu já notei esse fato. _ Dona Mimi, eu só mantinha relações sexuais em sua casa e com Miriam. _ Ora pois Julius, está aí onde você pegou esta doença, com aquela vagabunda. Veja só meninas, Julius acha que pegou sífilis com vocês e anda nos hotéis com aquela sujeitinha. _ Que eu faço agora, Dona Mimi? A minha mãe vai se horrorizar, ela me tem ainda como um menino. Como vou falar-lhe dessa doença? _ Julius, mandarei o Dr. Francis lhe fazer os exames. Qual o médico que te falou dessa doença? _ Um urologista cujo consultório é na Praça da Sé. _ Julius, eles são uns carniceiros, devem ter tirado seus diplomas por correspondência. _ Mas ele fez um exame de sangue. Olhe como está o meu corpo. _ Nossa senhora Julius, parece-me que é mesmo a doença. Filho, você cresceu aqui conosco, virou um homem em nossas mãos, vou cuidar de você. Cristina telefone ao Dr. Francisco peça que venha imediatamente aqui em casa. Célia, prepare um chá de erva-cidreira. Vamos meninas, corram. Julius sente-se aqui e fique calmo. _ Dona Mimi, não irei dar essa contrariedade a minha mãe, vou me matar. _ Pelo amor de Deus Julius, justo você que nos fala da vida após a morte. Filho, faz tantos estudos com aquele padreco que te ensinou o que é um suicídio, não Julius, não faça isso. _ Que graça a vida tem, se estou doente? Miriam não me quer, só vivo bebendo, caindo pelas ruas, dando desgosto à minha mãe. _ Julius, você é rico, herdeiro de uma fortuna, filho único e sua mãe, pelo o que seu pai dizia, era um doce de pessoa. _ De que me vale o dinheiro se a felicidade, Miriam me tirou no dia em que ela não quis mais viver o meu amor? _ Julius, ela é mais vagabunda que todas as meninas pois, nós não fazemos do ato sexual um momento de realização pessoal mas, sim momentos de trabalho. _ Mas, muitos almofadinhas iguais a você, filhinhos de papai, tirou-nos a ilusão de viver de amor – disse Cristina. 29
  • 30. Socorro... Erraram meu sexo! _ Sei disto Cristina, mas não tenho esse hábito de me envolver com donzelas e deixá-las depois de me satisfazer. Respeito todas as meninas. _ Se todos pensassem como você Julius, muitas de nós não estavam nessa condição de prostituição. _ Cris, lamento muito por você, és tão menina ainda e tens que se vender para sobreviver. _ Sim Julius, ter um homem em meu corpo, sem que eu tenha nenhum prazer nesse ato, às vezes choro eles pensam que é de prazer mas, na verdade é de desgosto e nem por isso penso em me matar. _ Você não amou, não sabe o que é perder alguém tão importante. _ Você se engana Julius, a minha ilusão no amor foi com Cláudio, você o conheceu. _ Ele era meu colega de escola mas, já se formou há três anos atrás. _ Lembra-se daquele concurso quatro anos atrás sobre gincana entre os colégios? _ Lembro-me, era a melhor redação, a gincana era entre os colégios particulares e do estado. Tivemos uma espécie de integração social, todos os participantes visitavam os outros colégios. _ Lembra-se quando visitaram o colégio Caetano Campos? Aquele colégio da Praça da República. Foi lá que tudo começou, estava cursando o último ano do normal, a minha redação era a melhor do colégio e Cláudio com os seus amigos fizeram uma aposta para ver quem iria me conquistar. _ Como você soube da aposta? _ Um de seus amigos me contou depois que a minha desgraça havia acontecido. Ele sempre ia me buscar depois da aula, conversávamos e ele foi me envolvendo com presentes, flores até promessas de um breve noivado. Meus pais o adoravam. _ Seus pais Cris? _ Para você ver Julius, até namoro em casa tínhamos. Ele pediu ao meu pai permissão para namorarmos, que por sua vez, velho aposentado com quatro filhos maiores para criar, viu em Cláudio a sua solução financeira. Estávamos juntos há seis meses, ele era carinhoso e demonstrava muito amor por mim e eu boba, cada dia me entregava mais nesse sentimento. Até o dia que Cláudio convidou-me para um piquenique no Parque do Ibirapuera e a aposta foi concretizada. Bebemos muito até um beijo mais profundo ao ato em si. Aconteceu, entreguei-me a Cláudio e por força do destino era meu dia fértil e engravidei. _ Que azar Cris, então aquele menininho da Sra. Márcia é seu filho? Ela nos visita sempre acompanhada do menino e sua babá. 30
  • 31. Socorro... Erraram meu sexo! _ É meu filhinho Julius, que fui obrigada a entregar para eles. _ Conte-me em detalhes, porque não ficou com o menino? Parece-me, se não me engano, ela fez essa adoção em uma das entidades que mamãe gerência. Segundo ela, foi uma promessa para Nossa Senhora Aparecida, se Carlos seu filho mais novo, fosse curado de uma doença infecciosa. _ Tudo foi um truque Julius. Quando Cláudio ficou sabendo da minha gravidez, correu para contar a sua mãe. Ela foi a minha casa. Quando a vi conversando, parecia-me uma bruxa dos contos de fadas. Papai e mamãe não sabiam de nada, olharam-me com ódio. Eu sou a primeira filha e meus pais são de família italiana onde filha que não é mais virgem é prostituta. Assim Julius, para finalizar a história, eles deram um bom dinheiro aos meus pais e me levaram para uma das fazendas deles, para que terminasse minha gravidez. Maltrataram-me muito, Cláudio até trazia suas namoradas na fazenda para me fazer de empregada. _ De empregada Cris? _ Com uma barriga de quase oito meses ele me fazia servi-lo, arrumar suas roupas de banho. Quando estávamos sozinhos ele me batia fortemente na barriga dizendo que o bebê não poderia nascer pois, ele me odiava e também odiava o bebê. Obrigava-me a ter com ele relações sexuais, o que me parecia pior que um estupro. Quem me salvava era seu pai, o Sr. João, quando presenciava meus gritos corria, me salvava e dizia: _ “Seu moleque, isso não se faz, um dia irá pagar o que está fazendo a essa moça. Você é meu filho mas, se há um Deus no céu, irá se lamentar por tudo o que está fazendo e prejudicando essa moça. Desculpe-o filha, ele é como a jibóia da mãe e se eu permaneço ao seu lado é por minha posição social e o dinheiro da mãe desse monstro”. _ “Porque, você, seu inútil, não diz isso na cara de minha mãe”. _ “Já falei que, um dia irei criar coragem e abandonar tudo. Não há dinheiro que pague o sossego e a paz de espírito”. _ Foi ele quem me apresentou para Dona Mimi pois, já sabia que meus pais não queriam mais me ver e eu não tinha outra escolha. Assim, depois que eu tive o menino, entreguei-o na creche Maria das Dores, aonde imediatamente Dona Márcia o adotou, e acabando minha dieta vim para cá. _ Que história triste Cris, sinto muito pelo seu destino mas, o Cláudio já teve o que merece. _ O que Julius? _ Você não ficou sabendo Cris? _ Não, o que aconteceu? 31
  • 32. Socorro... Erraram meu sexo! _ Mamãe contou-me, um dia desses no café da manhã, que iria visitar o filho da Dona Márcia. Ao se jogar na piscina, bateu as costas na prancha e quebrou a medula óssea, provavelmente ficará paralítico. _ Meu Deus Julius, é a justiça infinita. Julius o carro do Dr. Francisco acabou de chegar, deixe que ele o examine e tenha fé em Deus que você irá sarar. Você é muito bom Julius, não merece este destino. Fique aqui que vou abrir a porta, dê-me licença. _ Dona Mimi, boa tarde. Cris deixou um recado em meu consultório que a senhora pedia a minha presença. – disse Dr. Francisco. _ Sim Dr. Francisco, quero que o senhor examine esse rapaz. _ Mas o rapaz não é filho do falecido comendador? _ Sou sim senhor. _ E o rapaz não sabe que Dr. Alberto é o médico de sua família? _ Vamos deixar de falatório Dr. Francisco, o rapaz precisa ser examinado ou seria contra a ética o senhor examiná-lo? _ Não Dona Mimi, aonde posso examiná-lo? _ Em meu quarto, irei acompanhar o exame de Julius. Vamos subir Doutor. _ Julius o que está acontecendo filho? _ O médico constatou sífilis. _ Deixe ver suas mãos, não melhor, tire suas roupas. _ Então doutor? _ Infelizmente Julius é sífilis, no segundo estágio da doença, veja as placas já espalhadas pelo corpo. Você não sentiu um inchaço em seu pênis? _ Sei lá doutor. Minha vida sexual sempre foi muito agitada. _ Fique tranqüilo rapaz, ainda tem jeito, só que você terá que se abster de sua vida sexual. Você tem vício alcoólico? _ Muito doutor. Chego até a beber uma garrafa de whisky. _ Não poderá mais beber se quiser se curar. _ Obrigado doutor. _ Tome essa receita e quando acabar os antibióticos, me procure em meu consultório. Estarei lhe aguardando. _ Quanto foi a consulta. _ Cem réis. _ Aqui está o dinheiro. 32
  • 33. Socorro... Erraram meu sexo! _ Julius, você não quer que o Sr. Adolfo te leve em casa? _ Não Dona Mimi, vou até a confeitaria do Sr. Marques me despedir da bebida. _ Está bem Julius, se cuide. Nesse instante as paisagens se passavam com uma rapidez imensa. Era como se estivesse com um controle remoto de um vídeo cassete adiantando filme. Eram paisagens de um São Paulo antigo, trilhos de bonde, prédios antigos, até que as cenas iam se normalizando e agora podia fazer-me de foco em uma avenida larga, cheia de casarões. Lá estava Julius, pude sentir como me transformava nele, é como se eu saísse desse corpo e tomasse o corpo dele pois, todas as sensações do alcoolismo eu podia sentir. A fraqueza, suores, um estado de sonolência. Bateu a porta. _ Julius, outra vez meu filho? Porque faz isso? Cássio, Cássio, venha até aqui! _ A senhora me chamou condessa? _ Dê um banho morno em Julius e mande Georgina preparar um café bem forte. _ Sim senhora, vou providenciar. _ Vamos Julius, ajude-me a tirar sua roupa. _ Filho o que é isso? Essas manchas em sua pele? _ Nada mãe. É melhor dizer a verdade de uma vez, é sífilis. _ Julius, pelo amor de Deus, o que você está me dizendo? _ É sim mãe. O médico da Praça da Sé e o doutor Francis da casa da Dona Mimi confirmaram o diagnóstico. _ Cássio, Cássio! _ Sim senhora condessa? _ Telefone urgente para o Dr. Alberto e venha correndo. Espere. _ Sim senhora. _ Vê por favor se o meu cunhado está na biblioteca. _ Sim senhora. _ O que foi Rebeca, Cássio está apavorado? Chamou o Dr. Alberto. _ Julius está em coma alcoólico. _ Não, olhe o corpo desse menino! 33
  • 34. Socorro... Erraram meu sexo! _ É sífilis, tenho certeza. Não chore Rebeca, Dr. Alberto irá curá-lo. De certo que ele pegou daquela vagabunda. _ Que vagabunda Francesco? Da casa das moças? _ Quer saber Rebeca, você é mãe e tem que saber. _ Saber o que Francesco? _ Julius mantinha há quatro anos intimidade com a mulher do Sr. Jorge. _ Com Miriam? Mas ela tem quase a minha idade. _ Para você ver Rebeca. _ Mas Julius há quatro anos atrás tinha apenas 14 anos, essa mulher não tem vergonha de manter relações sexuais com uma criança? Francesco, você já contou essa história ao Sr. Jorge? _ Calma Rebeca, temos imagem a zelar para a sociedade. Um escândalo seria uma queda em todo o império que Rufino construiu com muito suor. _ Que vamos fazer, Francesco? _ Curar Julius e mandá-lo estudar em um colégio na Suíça. _ Não Francesco, não ficarei longe de meu filho. _ Você não ficará. Iremos alugar um apartamento para vocês dois e continuarei cuidando dos negócios da família e mandando dinheiro. _ Ótimo Francesco. Mas a hora que Julius se curar vou falar com aquela mulher. _ Com licença Sra. Condessa? _ Padre Martines, o Sr. é confidente de Julius e sabia do romance dele com aquela mulher que tem 5 anos a menos que eu? _ Sabia, Sra. Condessa. _ Porque não me avisou? _ Calma Rebeca, Rufino pediu que ninguém te contasse. _ Mas Rufino já morreu há um ano. _ Pararam de se encontrar. _ Aonde meu menino se encontrava com aquela mulher? _ Nos hotéis Rebeca. _ Como Francesco se ele é menor? _ O que o dinheiro não compra? _ Meu Deus ela viu em meu filho um menino. Aquele dia que Rufino o deixou ir à casa de praia dela foi contra a minha vontade. Padre como não percebi 34
  • 35. Socorro... Erraram meu sexo! antes. Julius não ia mais para a fazenda nas férias só ia para casa dela. Pensei que fosse por causa de Jenifer. Ah! Moleque safado! Ele ficava com a filha para conquistar a mãe. _ Calma Rebeca, vai subir sua pressão, padre faça alguma coisa. _ Calma Dna. Condessa. _ Padre Martines, retire-se de minha residência, por favor. _ Não Rebeca, ele não tem culpa, apenas se calou em pedido de Rufino. _ Veja, Dr. Alberto acaba de chegar, vamos dar um banho em Julius. _ O que houve Sra. Condessa? _ Examine Julius por favor. _ Nem preciso Sra. _ Porque? _ O Dr. Francesco é meu amigo íntimo e ele já se comunicou comigo. _Vamos levá-lo ao hospital para fazer-lhe todos os exames. Já providenciei uma ambulância. Abri os olhos depois de ter ouvido eles conversarem e sentia dores na região do fígado mas, adormeci novamente e nesse instante sai daquele corpo mas, continuava vendo, só não sentia mais nada. Comecei a escutar alguém falando mas, não reconhecia a voz: _ Julius você vai morrer, vai ser nosso, eles não vão conseguir te salvar. Desejei sair do transe mas, não me acovardei e mais ainda me sentia presa naquele corpo. Julius estava dormindo mas, seu sono ele vivia cenas de terror. Não sentia medo mas, aquelas cenas eram verídicas, ele realmente as vivia. _ O que vocês querem de mim? _ Você amiguinho! _ Não, não quero ir com vocês! _ Você não tem escolha, irá se matar, sua bebedeira eles vão te curar. _ Porque vocês querem que eu morra? Ainda vou completar 18 anos. Por favor, mamãe já perdeu o papai a um ano. Ela não agüentará me perder também. Deixe-me em paz, por favor! _ Não, você já nos deu muito em bebidas, cigarros e diversões sexuais, agora queremos sua alma para brincarmos com você, seu santinho. Você é muito bobo, através de você nos divertimos. Ou você pensa que é tudo isso, és covarde e sem nós nem terias o vício da bebida. Além do mais, seu amor já está conosco, só falta você. 35
  • 36. Socorro... Erraram meu sexo! _ Vocês mataram Miriam? _ Nós? Fale a ele Carla. _ O marido dela a matou e o corpo dela está no oceano. Seu tio contou tudo ao seu marido e na viagem de navio ele a matou e jogou no mar. _ Não acredito! _ Então pergunte ao padreco onde está Miriam. _ Ele sabe que ela morreu? _ Não, ninguém vai descobrir, nós não vamos permitir. _ Porque vocês fazem isso? _ Eu faço isso, porque você me trocou por ela e quantas vezes vocês se encontrarem nós iremos impedir. _ Não te conheço como não te quis? _ Não foi agora seu idiota! Foi em outra vida, você me deixou na igreja. _ Carla, como pode se aliar ao mal e estragar minha vida? _ Vocês se encontram em outra vida, ficam juntos e eu só tenho acesso a você quando se faz carne. _ Meu Deus, quantos anos se passaram e o seu ódio não acabou? _ Dessa vez você será meu pois, irá se matar e ficar no mesmo plano do inferno em que vivo. E os dois serão meus agora e não vão se encontrar. _ Não acredito nessa história, onde está meu Deus que não interfere em um absurdo desses? _ Não adiantará ninguém interferir, te descobrirei em qualquer matéria, te perseguirei sempre através dos séculos. _ Julius, acorde meu filho! _ Mãe onde estou? _ No hospital, você só chamava por Miriam, quem é Miriam? _ Uma colega de sala de aula. _ Filho. Dr. Alberto achou melhor te deixar alguns dias para ele realizar alguns exames. _ Mãe, porque estou internado? _ Por excesso de bebida. _ Ah! Ainda bem. _ Filho, vou para casa tomar um banho e logo estarei aqui para ficar com você. 36
  • 37. Socorro... Erraram meu sexo! _ Mamãe, chame o Dr. Alberto. _ Está bem, filho. _ Enfermeira, por favor, chame o Dr. Alberto. _ Dr. Alberto! _ Sim, Sra. Condessa? _ Por favor te peço, não deixe que Julius saiba que eu já estou ciente de sua doença. _ A Sra. é quem sabe, são problemas de família que não vou discutir. _ Obrigado Dr. Alberto, agora entre no quarto como se não houvesse nada. 37
  • 38. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 6 O SUICÍDIO _ Julius, está se sentindo bem? _ Estou, Dr. Alberto, queria pedir-lhe um favor. _ Já sei, não falar nada para sua mãe sobre a sua enfermidade. _ Obrigado doutor. Sabe o senhor sabe que ela sofre de pressão alta. _ Julius, o padre Martines aguarda já há muito tempo na sala de visitas. Posso mandá-lo entrar? _ Claro que sim. _ Enfermeira, chame o padre Martines. _ Sim, senhor. _ Julius, como está? _ Padre Martines, não agüento mais a separação com Miriam, preciso revê-la. _ Impossível Julius, ela viajou com seu marido para Dover. _ De navio padre? _ Pelo o que eu soube, parece que foram de navio. _ Então não era sonho padre, estava acontecendo mesmo. Miriam está morta! _ Julius, como pode afirmar isso? _ Apenas intuição de um sonho confuso que tive mas, mataram a minha amada. _ Procure se lembrar. _ Padre, haviam três seres afirmando-me que não me deixariam ficar com ela. Que seu marido havia a matado e jogara seu corpo no mar. _ Sabe Julius, achei estranho essa viagem, ela nunca se separou de seu filho doente mas, sabes que eles são protestantes e não se abrem comigo. _ Meu Deus, é fácil, para Jorge afirmar que Miriam jogou-se do navio e abafar o escândalo. Tenho certeza que meu tio contou-lhe do romance de Miriam comigo. _ Já pensou se essa sua afirmação for verdade? Jorge saber que foi traído por uma criança? _ Padre nos meus estudos com você sobre o espiritismo. _ Pelo amor de Deus, fale baixo Julius, se descobrirem à igreja me condenará a expulsão do celibato. 38
  • 39. Socorro... Erraram meu sexo! _ Continuando padre Martines, meu envolvimento com Miriam em plenos quatorze anos, tem razão de ser pois, foi com muito amor, não de uma criança e uma mulher madura mas, de dois seres que já se conheciam antes, de outras vidas talvez e se fez o reencontro. _ Se tudo tem uma razão de ser, esta afirmação pode estar correta. E as cenas iam se modificando, Julius estava no quarto de sua casa a sensação que eu tive é que eu estava em um carro em alta velocidade e as paisagens iam passando sem que eu pudesse definir o que via. Julius estava deitado em sua cama com a cabeça sobre o colo de sua mãe. _ Mãe, eu te amo muito, você não pode imaginar o quanto. _ Então porque não para de beber Julius? Todos os dias você chega pela madrugada, porque faz isso comigo já que declaras tanto amor por mim? _ Mãe, eu tenho que revelar um segredo. _ Que segredo filho, conte-me? _ Mãe. _ Espere Julius, vou atender a porta. _ Senhora condessa, Julius. _ Padre Martines, que bom que o senhor chegou, precisava mesmo falar com o senhor. _ Fale senhora condessa, o que desejas de mim? _ Não é nada sério padre, era só o dinheiro do donativo para a igreja que quero passar para o senhor. _ Vim falar com Julius, logo irei falar com a senhora. _ Bem, pelo visto o assunto que o senhor tem a falar com Julius é particular. Esperarei o senhor na biblioteca, depois continuamos nossa conversa meu filho. _ Padre que bom que o senhor veio, tenho uma decisão para lhe comunicar, mas, tem que ser confidencial. _ Uma confissão? _ Sim, e será como se estivesse no confessionário. _ Está bem Julius, fale-me o que está acontecendo. _ Padre Martines, vou me matar. _ Julius, você sabe pelo o que estudamos que em suicídio terás um sofrimento muito grande. _ Sei disso padre Martines mas, sem o amor de Miriam não tem razão. _ Julius, o que vim lhe falar era sobre esse assunto. Miriam desapareceu. 39
  • 40. Socorro... Erraram meu sexo! _ Como padre? _ Miriam não se comunica com seus filhos já faz um mês. _ Padre Martines, se ela realmente morreu será maior a minha vontade de morrer. _ Julius, deves estar cheio de irmãos da terra lhe influenciando. Vá naquele centro espírita para que possam curá-lo. Por favor Julius, estou notando a influência deles no que falas. _ Seu urubu, vá embora, não quero mais falar com você. _ Mãe, mãe. _ Que foi Julius? _ Leve esse urubu embora, explique a ele que o dinheiro está com você e seu amante. _ Que amante Julius? _ Você e meu tio são amantes. _ Julius, você está bêbado, que conversa é essa? _ Calma senhora condessa, Julius não sabe o que fala. Incrivelmente, escrevendo em detalhes o que via, eu sentia a influência pelos mesmos sintomas de Julius e a influência no corpo inteiro. E a voz podia escutar que vinha como pensamentos dele próprio. _ Vou beber até me matar Miriam não me ama, minha mãe está com meu tio Francesco, eles mataram o meu pai. Vou descer até a cristaleira e pegar uma garrafa de whisky, ter coragem e me matar. Vou pegar a lâmina de fazer barba e me cortar os pulsos. _ Julius, vá acabe com sua vida! Nesse momento Julius teve um crivo de razão, tentou rezar e suas orações eram confusas. _ Deus me ajude, tire essa idéia de minha cabeça. Não, não consigo, vou me matar. Agora podia ouvi-los planejando a vitória, aonde Julius vai cumprir os seus desejos do mal. Eram três novamente, uma moça e outros dois rapazes. _ Vamos influenciar o tio de Julius para nosso plano dar certo. _ Como? _ Fazer com que Francesco dê um litro de whisky para Julius, isso será a arma para dominarmos ele novamente. 40
  • 41. Socorro... Erraram meu sexo! Julius desceu uma escada que dava acesso a sala de estar, no final, em frente a grandes portas de vidro que davam acesso à biblioteca havia uma cristaleira. Esse detalhe foi o que mais gravei, dando a seqüência aos fatos que vi a seguir, me chocaram muito, me marcam até hoje, Julius abriu a cristaleira a pegou uma garrafa de whisky, nesse momento abriu-se a porta da biblioteca e pude notar os três seres do além induzindo aquele senhor. _ Tenho que dar uma lição nesse mocinho, Julius não poderá continuar bebendo, só em farras noturnas. E eles continuavam a soprar no ouvido do senhor como o pensamento viesse dele. _ Vou fazê-lo beber todo esse whisky em um único gole, espero que esse ato o faça refletir e parar de beber. _ Julius, venha até aqui. _ O que você quer Francesco? _ Cássio, Cássio. _ Sim, Sr. Francesco? _ Segure Julius e o traga para dentro da biblioteca e feche a porta. _ Francesco, o que está fazendo com Julius? _ Estou dando-lhe um corretivo. _ Mãe, ele quer me matar, não deixe que ele me mate. _ Francesco espere, abra a porta. _ Cássio, segure-o, pois irei fazê-lo beber todo esse whisky em um único gole. _ Sr. Francesco, o senhor está ficando louco, não faça isso, por favor. _ Você está me sufocando tio. _ É para te sufocar mesmo, moleque. Não queria beber, então vai beber. _ Por favor, pare com isso. _ Por favor Sr. Francesco, deixe-o ir. _ Espero que aprendeu a lição Julius. _ Leve-o para cima Cássio, ajude-o no banho e mande Georgina fazer um café bem forte. Preste atenção mocinho, já fiz sua matrícula para o ano que vem em um colégio na Suíça. Cássio subiu com Julius para seu quarto, eu sentia toda sua embriagues. O mordomo Cássio deu-lhe um banho pondo-lhe o pijama. Nessa parte eu comecei a 41
  • 42. Socorro... Erraram meu sexo! sentir um enorme peso em mim. Eram eles, os seres das trevas induzindo Julius a se matar. _ Sua mãe está com seu tio Francesco, Miriam está com o marido viajando em lua de mel. A lâmina, corte seus pulsos. Chore, a vida não tem mais valor nenhum, vá ao banheiro pegar a navalha de barba e corte seus pulsos. _ Preciso me matar, vou me matar, adeus mamãe, adeus Miriam, se existe outras vidas irei te encontrar. Julius induzido pelos pensamentos por seres das trevas foi ao banheiro pegou a navalha e cortou seus pulsos. Senti a dor com muita intensidade como se estivesse realmente naquele corpo. Era real eu Rose, estava vivenciando os momentos agonizantes de Julius que tropeçava pelas paredes enchendo-as de sangue, sua mãe entrou no quarto e assustada com a cena gritava. _ Socorro, acudam Julius está se matando. Filho, porque fez isso? Rebeca deitou Julius em sua cama e colocou sua cabeça em seu colo. Na angústia da morte, ele não pronunciou nenhuma palavra e o meu envolvimento naquele corpo acontecia com mais intensidade e de repente pude sentir a sensação da morte, uma aflição intensa, uma dormência no corpo inteiro, parecia que o corpo não obedecia aos comandos do cérebro e de repente, como se arrancasse um corpo inerte, dando-lhe vida e outro corpo, Julius falecerá, tudo escureceu, a última cena daquele quarto foi demais, da mãe de Julius em cima dele. Na escuridão envolvida ainda, no meu personagem todas as linhas a seguir continuavam como realmente pude descrevê-las. _ Que escuridão! Fiquei cego? Onde estou? Mãe, onde estás? Que é isso? A parede é rochosa? Quem vem vindo aí? _ Somos nós santinho. _ Quem são vocês? _ Somos seus amigos. _ Não os estou enxergando, levem-me para casa. Minha mãe tem posses, ela os recompensará se me levarem até ela. _ Você está querendo nos comprar? Santinho, você já está entrando na nossa. _ Por favor, estou com sede, por favor quero água. _ Dê água a ele. _ Espere, essa água está salgada, parece urina. _ É isso mesmo santinho, você tomou seu mijo. Apalpando-o Julius gritou. _ Socorro, seu nariz é enorme, estou em uma caverna com um lobo? 42
  • 43. Socorro... Erraram meu sexo! _ Você vai sofrer Julius! _ Não. – eu rodopiava estou ficando tonto. Que gosma é essa no chão que me envolve? Que cheiro horrível é esse? E sem que me dessem uma resposta em todo sofrimento podia sentir muita sede, andava e não chegava a nenhum lugar. Via uma luz se aproximando, sentia nesse envolvimento que alguém o apalpava e molhava sua boca, Julius nessa hora chamava: _ Mãe, mãe, dê-me amparo e luz e perdoa-me pelo o que fiz. Mas seus agressores sempre apareciam para atormentá-los e quando ele suplicava a Deus misericórdia... _ Deus meu, tira-me daqui, se eu morri mesmo, juro-te meu pai, aprendi que a vida é muito importante para ser tirada. Agora sei que é sofrer um espírito. _ Santinho, aqui não se fala em Deus, teus amiguinhos não vão te tirar daqui. Cadê eles, que só vem aqui encher o saco? Quando iam judiar de Julius novamente, clareou-se tudo e pude enxergar três homens e uma mulher se aproximarem de Julius e a mulher falou: _ Julius, seu estágio nesse vale dos suicidas terminou, vamos tirá-lo daqui. _ Quem és vós, anjos dos anjos, que sua luz arde-me os olhos. _ Sou sua amiga e com esses irmãos, estamos incumbidos de resgatá-lo e levá-lo ao hospital. _ Quem intercedeu por mim junto ao pai? _ Foi sua mãe, que logo que desencarnou vem se incumbindo de ajudá-lo. Por isso Julius, os laços afetivos que temos em nossa passagem pela vida na terra são muito importantes pois, mesmo após a morte uma mãe nunca esquece do seu filho querido. Pegaram-no pela mão e atravessaram uma parede de vidro. Nesse lugar o chão era sólido e com um pote de barro ofereceram-lhe água. era tanta sede que a mulher pediu a Julius. _ Julius, devagar, tenha calma na ingestão de água. Ele parou de beber, olhou através do vidro e eu através dele pude confirmar as cenas mais horríveis até descrevê-las. Seres humanos, totalmente deformados de suas formas, alguns com vestimentas sujas de sangue. Era impressionante de ver, a degradação de seres que após a morte ficam monstruosos. _ Anjos dos anjos, que me livrou do sofrimento, não mereço mais privilégios do que esses nossos irmãos que sofrem em espírito. 43
  • 44. Socorro... Erraram meu sexo! _ Merece sim Julius, pois, apenas você foi levado a uma vida carnal, com padrões de uma sociedade, que pôs regras, leis das suas próprias convicções mas, nas leis de Deus, nas leis universais, somos livres e tudo que passamos desde as alegrias até as decepções. São apenas dores que machucam os nossos corações revertidas em lições para o aprendizado, para o nosso real ser. O nosso espírito. _ Minha mãe, porque não veio com vocês? Gostaria tanto de revê-la. _ Ela o está esperando na colônia de reformatório. 44
  • 45. Socorro... Erraram meu sexo! CAPÍTULO 7 A COLÔNIA REFORMATÓRIA _ Pegue-me a mão Julius, iremos levitar. E pelas mãos da mulher, que parecia um anjo, pelos seus cabelos louros, olhos azuis, de aparência muito jovem e pelos três homens que também apoiaram Julius para levitar. Subiram até que chegaram a um lugar que do alto se avistava um castelo, rodeado de árvores, lagos. Era-me emocionante pois, a sensação de levitar eu sentia uma leveza e observei que Julius não estava mais ligado aquele fio prateado. Desceram em posição horizontal e lá embaixo os esperavam duas pessoas. _ Mãe, que bom te rever, estou emocionado pois, agora sei que a morte não nos separou. _ É isso mesmo filho, você apenas voltou de mais uma representação da sua vida de carne. Tem mais uma pessoa que te espera ansiosa. _ Miriam! Desculpe-me, fiquei tão emocionado ao rever minha mãe que não reparei sua presença. _ Julius, espero que não me guarde rancor. _ Rancor, Miriam, por te amar tanto? _ Bem, vamos deixar que Julius se recupere e depois vocês falam com ele. _ Como chamas, anjos dos anjos? _ Wei.2, sua companheira de aperfeiçoamento. _ Então és minha alma gêmea? _ Não defino assim Julius, somos dois pólos que juntos formam uma só energia. Quando um pólo está fraco o outro restituíra a energia necessária para um bom desempenho da força energética. Até um dia universal sermos um ser que com a nossa própria individualidade formamos a nossa própria força energética. _ É complicado Wei.2, mas fico contente por ter uma companheira nesse plano que está sempre me zelando. _ Nós zelamos um pelo outro. _ Mas aposto que suas encarnações não são degradantes como as minhas. _ Julius, você apenas necessita de mais aprendizado do que eu. _ Vamos, ficará descansando tomando passes, água magnetizada até se recuperar. _ Quero ver-me no espelho. 45